Bateram na porta
com um ritmo característico, lento e metódico.
Sabri.
Louis ergueu a
cabeça do livro — O Príncipe, de Maquiavel — e olhou na direção da entrada do
quarto.
— Entre! — a
porta se escancarou e o Bruxo andou na direção da poltrona onde Louis se
acomodava. — Alguma novidade?
— Os demônios
disseram que eles vão realizar o teste com Arely no fim de semana.
Louis fechou o livro
e encarou Sabri, os olhos claros demais carregados de ansiedade.
Finalmente. A
espera estava deixando-o agoniado, tanto quanto o fato de não conseguir mais se
aproximar de Arely.
— Tem certeza?
Sabri girou os
olhos com algo que ele julgou enfado.
— Claro que
tenho, Louis. Sei controlar os demônios debaixo do meu comando. Agora, você
disse que tinha um plano para quando o teste fosse ocorrer. Se importa em
compartilhar agora?
O Vampiro sorriu
de lado com algo de orgulho, antes de se levantar e jogar o livro em cima da
cama. Cruzou as mãos nas costas de modo militar e se encaminhou para a saída do
quarto, o Primeiro Bruxo logo atrás dele.
— Lembra que eu
tentei dominar o subconsciente dela depois de apagar o Adrien das memórias
dela?
Novamente o
Bruxo girou os olhos.
— Claro que
lembro. Você disse que Adrien te impediu, a salvou de morrer afogada no sonho
provocado. — Sabri o encarou com um olhar enviesado. Se Louis tivesse sido mais
cuidadoso quanto ao gêmeo, os problemas deles teriam terminado há tempos.
— Não foi por
isso que falhou. Mesmo que ela tivesse se afogado... Não teria dado certo. — o
Vampiro abriu a porta do escritório do qual tomara conta, depois que o padrasto
se mudara definitivamente para uma das fazendas por influência de sua mãe. — Como
você sabe, anoto tudo que encontro na mente de alguém que invado. Estava
reanalisando o que vi na mente dela, antes do Anjo me expulsar.
Louis sentou-se
à escrivaninha, apoiando os pés cruzados na mesa, ignorando a massa de papéis
com anotações suas tentando entender o que se passara. Cruzou os dedos das
mãos, os indicadores tocando a boca onde um sorriso esperto se mostrava.
— Então qual foi
o problema? — Sabri sentou com as pernas cruzadas em posição de lótus na
escrivaninha depois de empurrar alguns papeis para o lado, encarando o General
com seriedade.
— O medo
escolhido. Se afogar não é o maior medo dela.
As sobrancelhas
do Bruxo se franziram. Louis ficou preocupado por um instante; Sabri estava com
a mesma expressão de quando detestava ser enrolado. Era melhor apressar a
explicação.
— Você invadiu a
mente dela, todos os recantos. Como se enganou desse jeito?
— O problema é
que ela própria acredita que se afogar é o seu maior medo. Mas não. Quando
invadi a mente dela de novo, pouco antes do Anjo aparecer, peguei partes das
interações dela com Adrien no plano espiritual. — abriu um sorriso cheio de
dentes. — O maior medo dela está longe de estar relacionado à própria
segurança.
Os olhos de
Sabri brilharam com entendimento, endireitando a coluna.
— Se ela mesma
não tem ideia do real pavor dela... — o Bruxo começou.
— O teste vai
falhar. E conhecendo Adrien, ele vai se afastar por um tempo e dar à ela tempo
para descobrir o maior medo, confiando na proteção dos clãs, e vai à Catedral.
É quando vamos agir.
Sabri balançou a
cabeça em afirmativa, pensativo, antes que a expressão se tornasse curiosa.
— Qual o maior
medo dela?
Louis sorriu
como apenas um Vampiro seria capaz de sorrir, os olhos azuis escurecendo para
vinho-tinto.
O gelo na planta
dos pés trouxe um alívio indescritível, apesar do frio querendo se espalhar
para o resto de seu corpo. Entretanto, estava aliviando as tenebrosas e
doloridas pontadas. Era capaz de aguentar um pouco de frio com uma recompensa
tão boa.
— Você é um
anjo, Allan. — resmungou, afundando a cabeça no travesseiro macio e relaxando.
Ouviu um riso abafado, e ergueu um pouco a cabeça para conseguir encará-lo.
— Não tenho
certeza se anjos gostam de comer carne crua. — ele brincou. Arely pensou em
atirar o travesseiro nele, apesar de ter rido, mas exigia mais força para
puxá-lo de debaixo de sua cabeça do que ela tinha.
— Anjos ajudam
as pessoas e lutam contra o mal. Você faz isso. Não discuta. — Resmungou,
encolhendo os braços debaixo das cobertas e estremecendo quando o Lycan afastou
as pedras de gelo de seu pé.
— Está melhor? —
ele perguntou em voz baixa, e Arely parou para refletir por um momento.
Sua cabeça não
martelava mais. Os pés e as mãos não estavam cheios de pontadas dolorosas. Não
respirava mais em fôlegos curtos, como se o ar não alcançasse os pulmões, e não
sentia mais a própria pulsação contra os ouvidos. E estava relaxada.
— Sim. Muito
melhor. Aposto que o chá de hortelã ajudou muito. — murmurou, um tom alegre e
feliz na voz. Ouviu um riso de Allan quando ele cobriu seus pés e levantou da
cama.
— Chá de hortelã
é milagroso em crises de estresse. — ele deitou ao lado dela por cima do
cobertor, dessa vez deixando-a entre ele e a parede. Arely imaginou que ele
queria impedir que ela quase quebrasse a cabeça de novo.
Ele a encarou
por alguns minutos, os olhos verde-musgo impedindo que as vozes a arrastassem
de novo. Ou pelo menos tentando. O silêncio físico contribuía para que o barulho
interminável em sua cabeça ganhasse força e aumentasse o poder de sedução do
conhecimento que as vozes traziam, os pedaços de informação se enroscando em
torno de sua consciência como trepadeiras.
Precisava falar
algo. Permanecer sã, por mais algum tempo. A primeira voz a incentivava. Dizia
que faltava algo, que precisava fazer algo.
— Como está a
sua mão? — ele perguntou, repentinamente, e Arely arregalou os olhos, antes de
lembrar que socara Adrien. Sufocou um risinho.
— Bem. Doeu na
hora, mas agora está normal. Deve ser coisa de Mensageira. — foi a vez dele rir
levemente, se ajeitando na cama até que seus rostos ficassem nivelados.
— Como você
está, com essa história da maldição? — ele perguntou com cuidado depois de mais
alguns minutos, as sobrancelhas levemente franzidas.
Arely se
encolheu mais debaixo do cobertor, até o queixo estar praticamente entre os
ombros, ao ouvir a pergunta. Presumiu que o próprio olhar devia carregar assombro
e medo.
Aquela maldição
era cruel de uma forma mesquinha e arrogante. Forçar alguém à imortalidade e à
incapacidade de amar, e então forçar alguém amar essa pessoa e a vê-la morrer
em seus braços...
Estremeceu ao
lembrar o detalhe da maldição que dizia que Adrien morreria em seus braços.
— Irritada com
Adrien por ter escondido de mim. Aterrorizada e surpresa com o quanto alguém é
capaz de ser mesquinho para fazer essas coisas com alguém. — fechou os olhos
por um instante, a escuridão de suas pálpebras trazendo certo alívio. — E
destruída por saber que essa maldição me impede de ao menos pensar em retribuir
o que você sente por mim. — murmurou, e então sentiu uma das mãos
abençoadamente quentes de Allan em seu rosto e a testa dele contra a sua. O
ritmo da respiração dele batendo em seu rosto era tranquilo e a acalmava.
— Não estressa
com isso, Ly. Não diz o ditado que não se escolhe quem se ama? — ouviu um riso
amargo na voz dele, e abriu os olhos, franzindo as sobrancelhas.
— O que primeiro
se sente é atração. Deixar essa atração evoluir para amor depende de você.
Deixar esse amor te consumir depende de você. Sim, somos capazes de escolher
quem amamos, mas as pessoas estão muito fechadas no objetivo de serem felizes a
qualquer custo ou qualquer balela do tipo para notarem que amar alguém ou não
depende também de uma escolha sua. — fechou os olhos de novo, soltando a
respiração. — Essa opção de temperar atração e emoção com razão me foi
arrancada, Allan. Não fosse isso...
— Não fosse isso
o quê?
Arely abriu os
olhos de novo e tirou uma mão de debaixo do cobertor, envolvendo a lateral do
rosto de Allan com ela. A barba estava por fazer e fez cócegas, mas era uma sensação
boa.
— Não fosse essa
maldição, pode ter certeza que eu te amaria. Adrien não chega aos seus pés. — Allan
riu, afastando um pouco a testa da dela, mas inclinando o rosto em sua mão.
Será que existia
uma forma de quebrar aquela maldição? Porque, Deus, ela queria ser capaz de
amar Allan mais do que como um amigo. Parecia correto. A sensação era de se
estar num labirinto feito de árvores e diante de uma parede mais fina, feita de
galhos finos, capaz de ver do outro lado o seu objetivo... Mas sem ter como
cortar os galhos e abrir passagem.
Ela odiava a
sensação. Se pudesse, estrangularia a Bruxa que lançara a maldição.
— Eu vou
descobrir um jeito de desfazer a maldição, ou pelo menos de anular o efeito
sobre mim, Allan. — começou a despejar as palavras, encarando-o fixamente. — E
então, vamos dar uma chance à... Nós. Mas se encontrar outra pessoa antes, não
vou interferir. É sua escolha.
Allan puxou uma
respiração longa, encarando-a de volta, e então sorriu. Arely quis sentir a
mesma falta de ar que sentia quando o Observador sorria, mas... Nada. Era um sorriso
ainda mais bonito, cheio de uma esperança estranha, de fé e carinho e, apesar
de tudo, felicidade. Os de Adrien eram bonitos, mas faltava algo. Os sorrisos
dele eram quebrados. Sombras do que já tinham sido.
— Não precisa ter
pressa, Ly. Sei que vai conseguir contornar essa maldição. Sou capaz de esperar
por você. — ele respondeu, e beijou sua testa.
Arely quis
chorar de raiva de si mesma.
Ela não merecia
a fé que ele colocava nela.
Desligou o
telefone e girou a cadeira giratória, apoiando o aparelho no queixo de forma
pensativa. Mais uma família nômade confirmara que iria para um dos pontos de encontro.
Agora só precisava da confirmação de Sabri de que ele e os outros dois Bruxos tinham
tido sucesso na experiência.
Mal pensou no
Bruxo com cara de criança e a porta do escritório se abriu, dando passagem à
Sabri que alcançou a mesa com passos rápidos, se jogando na cadeira o outro
lado, parecendo satisfeito quando afundou no estofamento.
— E então? — o
Vampiro perguntou, e um sorriso se abriu no rosto do outro.
— Conseguimos.
Você estava certo, afinal, quanto a utilizar um monte de almas para forçar a
abertura de um portal.
Arely estava
sentada na poltrona, encolhida, os pés em cima do assento e os braços cruzados,
o olhar fixo diretamente à própria frente. Mergulhada no meio das vozes e do
que quer que apenas ela enxergava por conta do outro destino possível de sua
alma.
— Qual o seu
maior medo, Arely? — sentado no sofá, inclinado para frente, com os cotovelos
apoiados nas coxas, Adrien aguardou uma resposta para a pergunta. Os lábios da
Mensageira se mexeram, respondendo a pergunta, mas nenhum som saiu. — Não ouvi
a resposta.
— Me afogar. — veio
a voz em tom baixo. O olhar continuava parado, mas ganhou um ar assustado. O
que ela estava vendo agora? Ou talvez estava imaginando o pior medo se
realizando?
Adrien virou-se
para Ruby ao seu lado; percebeu os lábios franzidos e a raiva no olhar dela.
Ela não gostava de ter de fazer aquilo com Arely.
— Existe alguma
piscina que podemos usar para o teste? — antes mesmo de terminar a pergunta, a
ruiva balançava a cabeça em afirmativa.
— Minha tia,
Emanuele. Tem uma piscina na casa dela. O clã usa para ensinar os mais jovens a
nadar.
— Bom. Vamos
amanhã durante o fim da tarde. Avise pra ela. Não vou querer ninguém lá além de
nós.
Ficaram em
silêncio por um tempo, observando a Mensageira e seu olhar fora da realidade.
Adrien estava acostumado com aquilo. Embora ele mesmo tivesse encontrado apenas
cinco Mensageiros no total, contando com Arely, vira outros que Hayato e outros
Observadores haviam treinado. A garota na poltrona era a mais calma de todos
que ele já vira. Mas Ruby, ele percebia, estava incomodada em ver Arely daquele
jeito.
No momento que
Ruby se levantou, ele imaginou que para guiar Arely ao próprio quarto, a porta
da sala se abriu e Allan entrou. O Lycan carregava alguns ferimentos no rosto e
nos braços, já quase totalmente fechados; a camiseta e a calça jeans estavam com
rasgos abertos, sujos de sangue — vermelho e roxo — e terra. Usava apenas um
par de chinelos, ao invés dos tênis com os quais saíra. O cheiro de Vampiro e
Bruxo nele era pungente e agitou sua fera.
Franziu as
sobrancelhas com o estado do herdeiro do Alfa dos Carvalho, ignorando o olhar
atravessado que ele lhe dirigiu.
— O que
aconteceu? — sua aprendiz foi mais rápida, e Allan girou os ombros em seguida.
— Vampiros e
dois Bruxos nômades entraram no nosso território. O que consegui capturar e
interrogar antes de cortar a cabeça disse que Louis convocou todas as famílias
nômades para pontos de encontro específicos, alegando que descobriu como abrir
portais para a Catedral. — a expressão de Allan fechou ainda mais. — Como os
Observadores vão pra lá, afinal? Como qualquer
um vai pra lá?
Suspirou. Estava
demorando para aquela pergunta aparecer. Além disso... Como os Bruxos tinham
demorado em descobrir como forçar a abertura de portais. Achava que eram mais
inteligentes.
— Os Velhos
Líderes e Guerreiros entram automaticamente ao enfrentarem seus testes. Ou
seja, quando Arely enfrentar o seu medo de se afogar, a Catedral se abrirá para
ela no mesmo instante, enquanto ela ainda está na água, e a levará para lá. Os
Observadores são capazes de abrir portais em locais considerados sagrados,
independente de qual povo considere esse lugar sagrado, por causa da nossa
ligação com a Catedral. O que faz o local ser sagrado é a crença que existe ou
já existiu quanto a esse lugar. Eu prefiro usar igrejas protestantes, mas
cemitérios, terreiros, sinagogas, mesquitas, igrejas católicas, mosteiros,
templos aos ancestrais, templos em ruínas e muitos outros também servem...
Diversas possibilidades. Através desses portais, podemos levar outros conosco.
— deu uma pausa, respirando fundo. — Vampiros e Bruxos dependem de portais
naturais, que se abrem de tempos em tempos e não são muito estáveis. — riu um
pouco. — Só acho estranho eles demorarem pra perceber que esses portais se
abrem em locais com muitas mortes no mesmo momento.
— Qual a
ligação? — Ruby inclinou a cabeça para o lado, curiosidade em seu olhar.
— Muitas almas e
espíritos fazendo a passagem ao mesmo tempo. Ao que parece, precisam passar
pela Catedral antes. Normalmente uma alma só provoca um rasgo de poucos
segundos ao atravessar, mas muitas ao mesmo tempo provocam um rombo que pode
levar dias para se fechar, e que pode ficar intermitente. Se fecha, mas se abre
depois de um tempo com a mais leve perturbação.
Louis matara
muitas pessoas para conseguir abrir o portal, e mataria mais ainda, se
pretendia abrir mais de um. Mas porque ele já estaria começando a reunir os
Vampiros e Bruxos? Deixaria Arely e os demais para trás? Não. Não fazia
sentido. Ele planejava alguma coisa.
Se levantou e
andou na direção da porta por onde Allan entrara.
— Aumente a
segurança em torno da casa. Volto em duas horas. — falou por cima do ombro
antes de sair.
— Entendi. Vou
avisá-lo. Sede dos Assaliah, correto? Obrigada por avisar. — Desligou o
telefone sem fio, e com uma careta encarou o relógio pendurado na parede marcando
duas e meia da manhã. Mais de cinco horas desde que Adrien tinha saído, e nem
sinal do Lycan ainda.
— Quem era? — a
voz de seu irmão a alcançou, e Ruby suspirou, controlando a raiva que sentia do
Observador pelo sumiço. Virou-se, apoiando as costas no sofá e fixou o olhar no
irmão.
— O Alfa dos
Maisha. Reunião de emergência dos Alfas da cidade por causa das famílias
nômades de Vampiros e Bruxos entrando. — viu os ombros do irmão caírem com a
notícia. Não o culpava. Também estava ciente da hora que o pai fora dormir nas
últimas semanas, desde que os Observadores tinham convocado os clãs para partirem
para a Catedral. Muitos preparativos a serem feitos.
— Eu vou
avisá-lo. Fica de olho na Arely? — Ruby balançou a cabeça em afirmativa, vendo
o irmão sumir no corredor.
Adrien entrou na
sala, espanando poeira do que restava da camiseta e da jaqueta, manchadas de
sangue vermelho e roxo. Apesar do sangue e dos farrapos que usava, não parecia
ter qualquer ferimento.
Ruby levantou-se
do sofá e parou diante dele, encarando-o e barrando sua passagem.
- Pensei que “em
duas horas”, significava dez da noite, e não duas da tarde do dia seguinte.
O Observador a
afastou com uma mão, girando o outro ombro lentamente enquanto avançava casa
adentro.
- Tive problemas
para conseguir informações das famílias que entraram na cidade. Ninguém queria
falar. Acabei tendo de provocar um pouco de confusão no território da família
onde Louis mora pra conseguir algo de útil.
- Valeu à pena?
– seguiu atrás dele, vendo-o se deixar cair no sofá com um gemido de dor. Ruby
pensou consigo mesma que era uma benção o sangue já estar seco, ou sua mãe iria
mata-lo por manchar o tecido bege escuro.
- Sim. Consegui
descobrir onde Louis abriu um portal para a Catedral. Consegui fechá-lo, mas
alguns Vampiros falaram sobre ele ter aberto um segundo. – deu de ombros. –
Ainda assim, não descobri o que ele pretende. Ninguém tinha uma mínima pista.
Qualquer
conversa que pudessem ter foi interrompida por um grito curto, seguido do som
de algo caindo. Ambos reconheceram a voz de Arely.
- Allan não fica
pajeando ela vinte e quatro horas por dia agora? – Adrien perguntou para a
garota, não parecendo realmente querer sair dali. Ruby fez uma careta para a
frase dele.
- Ele cuida dos
ferimentos resultantes do seu treinamento,
tenta manter ela nesse mundo e é a única coisa que realmente a ajuda durante os
pesadelos. – Ruby o respeitava como quem estava treinando-a como Observadora,
mas ele sabia ser irritante e acabar com sua normalmente pouca paciência, isso
ela tinha de admitir. – Allan teve de sair para cuidar de alguns assuntos do
clã, já que o nosso pai ainda não voltou da reunião de emergência dos Alfas.
Adrien girou os
olhos e então se levantou, dando passos lentos para o corredor que levava aos
quartos. Ruby o seguiu, mas logo passou à frente dele e o impediu de entrar no
quarto, cruzando os braços.
- Não recomendo você
entrar aí, Adrien. Desde ontem à noite ela está mais mergulhada nas vozes do que
nunca. – o Observador franziu as sobrancelhas para ela.
- Ainda assim,
preciso verificar. – ele novamente a empurrou para o lado com uma mão, abrindo
a porta e entrando no quarto de Arely.
A garota estava
encolhida num canto, abraçando as próprias pernas, os olhar fixo na cama
bagunçada. Adrien se aproximou devagar, se abaixando perto dela. Esticou a mão
para tocar seu braço, mas parou a meio caminho, quando a Mensageira pulou para
longe, encarando-o com olhos desvairados enquanto se arrastava para o outro
lado do quarto, gritando.
- Não me toque!
Adrien virou-se,
mantendo o olhar sobre ela. Ruby permaneceu na porta, observando a cena com a
garganta apertada.
- Que péssimo
Observador você é, Adrien! Esperança de
morrer ou esperança de matar Louis
são as únicas coisas que o mantêm ligado à Catedral! São esperanças, afinal! – Arely
deu uma pausa, os olhos castanhos girando pelo quarto, vendo algo que apenas
ela via, antes de voltar a focá-los nele.
Ruby pensou
consigo que Adrien parecia imaginar que devia ter escutado o que ela falara e
permanecido longe. Na opinião dela, desde quando Arely o enfrentara sobre a maldição,
o Observador devia tomado mais cuidado ao se aproximar da garota. Ela sabia
como a raiva de uma mulher era perigosa, e especialmente a raiva de Arely, que
apenas a escondia mais que qualquer um.
- Você
abandonou-os! Guillermo matou, e resistiu por quase um ano à tentação de deixar
um espírito de demônio entrar no lugar, aprisionado por Louis! Mas você –
apontou um dedo para Adrien, cuja expressão, Ruby notou, era de terror. – achou
que ele estava perdido e o abandonou! Lílian se jogou de um precipício assim
que matou, seu corpo para sempre um presente aos mares! E isso porque você
sequer foi atrás dela quando desapareceu! Rachel e John foram a mesma coisa!
“Sempre terá outros Mensageiros para serem encontrados.” NÃO! Seu desapego fez
com que eu fosse a única Mensageira dessa geração, e se falhar, a última! Diga
que a culpa é da maldição! Diga e seja covarde em admitir que você não quer
sequer tentar encontrar e treinar Mensageiros e que só lhe importa matar Louis
desde que Elizabeth se matou!
Ruby viu Adrien
se levantar devagar, usando a parede como apoio, sem desviar o olhar de Arely.
A Lycan sentiu o coração apertar por ver o estado da garota, tão diferente do
que conhecia.
- Acha que eu
não sei?! Se Gabriel não tivesse te dito o que fazer e que sou a última, você
também teria desistido de mim, depois de tudo que fez! – o Observador começou a
recuar na direção da porta, e Arely estendeu os braços em cruz, ajoelhada no
chão e olhando para cima, diretamente para seu rosto, embora não parecesse
realmente enxerga-lo. – Assustado?! Só estou sendo o que você queria que eu
fosse: uma Mensageira!
Saiu do quarto
praticamente correndo, não esperando Ruby fechar a porta; ela o alcançou na
sala, onde ele parou e cruzou os braços.
- Eu avisei. –
ela resmungou, um olhar de censura nos olhos cinzentos.
Anjos, ele
realmente ganhara a inimizade da aprendiz nas últimas semanas. E Arely sem
dúvida o mataria se pudesse e tivesse chance.
- Sim, você
avisou. – resmungou de volta, a fera murmurando ao fundo que devia coloca-la no
lugar e ensiná-la a não desafiá-lo. Ignorou. Não precisava dar outro motivo
para ela surtar com ele. Agora, tinha de se focar no fato de Arely estar
completamente mergulhada nas vozes e não parecer sequer se esforçar para sair,
mas de um jeito estranho. Não era a insanidade que ele estava acostumado.
Era... Diferente. Ela parecia quase sã enquanto gritava com ele. – Vou trocar
de roupa. Avise a sua tia que vamos agora pra lá. Arely precisa realizar o
teste logo.
Ouviu um bufo de
Ruby enquanto se virava para ir para o outro prédio. Quando olhou por cima do
ombro para ela, o rosto da ruiva exibia sarcasmo.
- Agora que
percebeu? – ela falou, e dessa vez a fera foi mais insistente quanto a mostrar
para Ruby parar de agir daquele jeito.
Infelizmente,
não podia culpa-la por trata-lo como um filhote que mal aprendeu a controlar a
transformação. Ele que fora um completo idiota ao se tratar da Mensageira.
Cheiro de dia ensolarado, de serragem e de gengibre.
Essa combinação exótica e agradável e insana – afinal, como era capaz de dizer cheiro
de dia ensolarado? – se enroscava por entre as vozes e a alcançava, apesar
da muralha que elas eram ao seu redor. Aquele aroma a chamava, a incitava a
prestar atenção em algo mais. Então percebeu uma voz, um barítono suave, que
não estava apenas em sua cabeça, chamando seu nome com carinho.
Conhecia aquela voz e aquele cheiro. Conhecia quem
possuía ambos. Era alguém que não a fazia sentir necessidade de gritar os
segredos mais profundamente enterrados na mente dessa pessoa que as vozes lhe
sussurravam. Quem era mesmo?
A primeira voz, sua própria voz tristonha, a empurrou
numa direção. Para fora de entre as vozes. Resistiu, as demais se enroscando em
sua mente como gavinhas e trepadeiras, tentando fazê-la ficar. A que a empurrava
o fez com mais insistência, arrancando as outras de sua mente momentaneamente.
- Por quê? – conseguiu resmungar enquanto era forçada
para o mundo são, onde não tinha acesso a todo o conhecimento, todo aquele
maravilhoso conhecimento, que as vozes lhe davam.
“Porque eu sou quem sempre te fará fazer o que precisa
ser inegavelmente feito.” A voz respondeu, e então a jogou do labirinto de
vozes.
Allan segurava
seus ombros com firmeza, falando seu nome num tom baixo de voz. Piscou e se
encolheu, confusa com a luz que atingia seus olhos, por cima dos ombros do
Lycan. Ele parou de falar e então sorriu.
- Bem vinda à
lucidez. – brincou, e ela não conseguiu se impedir de rir. Admirou o sorriso
dele por um instante, tentando entender como conseguia trocar a capacidade de
ver tal sorriso por tudo que as vozes lhe contavam, mas logo desistiu de tal
empreitada. As vozes, as malditas vozes, continuavam sussurrando e se
enroscando em sua mente, tentando arrastá-la. Tão tentador...
- O que
aconteceu? – Arely perguntou, sentindo a garganta seca. Não se lembrava da
última vez que bebera água. Sinceramente, não conseguia lembrar de muita coisa
dos últimos dias, além de descobrir a maldição, gritar e socar Adrien e a
promessa que fizera ao Lycan diante dela.
Allan respirou
fundo, e por um instante ela sentiu as mãos em seus ombros apertarem.
- O teste da
Catedral. – ele murmurou, e só então a Mensageira olhou ao redor e engoliu em
seco.
Estavam na área
de uma piscina coberta, janelas amplas no topo das paredes de cinco metros de
altura deixando entrar o sol de meio de tarde que a cegara pouco antes. A piscina
devia ter cerca de cinquenta metros de comprimento.
Encarou a água
límpida, visualizando o fundo simples de azulejos azuis distorcidos. Estremeceu
ao se imaginar debaixo de toda aquela água, incapaz de respirar, e quis sair
correndo.
- Só preciso
entrar, certo? – murmurou para ninguém em particular, a garganta apertada.
- Não. Como seu
maior medo é se afogar, então é o que vai acontecer. – a voz de Adrien a
respondeu. Allan ficou tenso ao seu lado, e não o culpava. Seguiu o som da voz
do Observador, vendo-o caminhar na direção da piscina de braços cruzados,
usando um conjunto de bermuda e camiseta com as cores desbotadas.
Allan a soltou;
respirando fundo, Arely girou no lugar e observou Adrien entrar na água e andar
até o meio da piscina, de braços cruzados. A Mensageira o encarou, fechou os
olhos e respirou fundo, antes de dar o primeiro passo.
Em um segundo,
Ruby estava ao seu lado e a ajudou a descer pela borda da piscina. A água
penetrou pelo tecido das roupas de moletom; estava quente, mas ainda assim,
sentiu sua pele se arrepiar. Com uma careta, mal sentindo as pontas dos pés
tocando o fundo, andou na direção do Observador. Ele a fez ficar de frente para
Allan e Ruby, ainda no seco, uma mão no alto de suas costas.
Arely começou a
falar. Começou a perguntar como aquilo funcionaria.
Não teve tempo.
Sem aviso algum,
a outra mão de Adrien estava logo abaixo da junção do pescoço com o tronco,
pressionando suas clavículas para trás, empurrando-a para dentro do abraço
quente e sufocante da água.
O líquido entrou
por sua boca e narinas, o cloro queimando seu caminho. Fechou os olhos,
sentindo-os arderem por conta da substância. Se debateu e tentou sair da água,
as mãos, pés e joelhos encontrando o ar frio acima, mas Adrien manteve sua
cabeça debaixo da água sem misericórdia, sem ligar para o quanto ela chutava e
estapeava.
Allan soltou um
suspiro irregular quando Arely finalmente tossiu, o peito se erguendo quando ar
encheu seus pulmões uma vez mais. A virou de lado, com cuidado, uma das mãos
esfregando as costas da garota enquanto ela cuspia água e tentava regular a própria
respiração.
O Lycan ergueu o
olhar para Adrien, sentado na borda da piscina de costas para ele, Ruby ao seu
lado, não porque queria. Por ela, o tinha ajudado a trazer Arely de volta.
Quando a
Mensageira parou de tossir e a respiração estabilizou, embora ainda fosse
pesada, Allan a fez se sentar antes de puxá-la para um abraço, controlando a
própria força para não esmaga-la e quebrar algo. Afundou o rosto no pescoço
dela e respirou fundo. O cheiro de cloro invadiu suas narinas, mas logo abaixo
estava o aroma de fogo e terra queimada. Devagar, sentiu os braços dela o
envolverem e uma das mãos apertar sua nuca e provavelmente se enroscando nos
cachos ruivos.
- Obrigada. –
ela resmungou em sua orelha. Allan sentiu o corpo relaxar, mas apertou o
abraço.
- Sempre que
precisar, Ly. – sentiu os lábios delas se esticarem num sorriso tímido contra
seu pescoço quando ela deixou que ele apoiasse todo o seu peso.
Deus, ele
realmente tivera medo de perdê-la. Quando Adrien a empurrara para debaixo da
água, e ela continuara ali, se debatendo e se afogando, ao invés de sumir e ir
para a Catedral como o Observador dissera que aconteceria, Allan sentiu a
garganta apertar. E quando ela parara de se mexer... Ele não queria nunca
passar por aquilo de novo. Era como se tivessem arrancado seu coração do peito.
Fora a fera, é
claro, berrando em sua mente para estraçalhar Adrien por fazer aquilo.
Ruby saíra do
estupor primeiro que eles, berrando para Adrien trazê-la para a margem. O grito
dela o fizera agir também e começar a tentar reanima-la no instante que o Observador
a colocara no chão frio e seco. Sua irmã começara a ajuda-lo, mas Adrien a chamara.
Se ele viu e simplesmente ignorou o olhar assassino que ela lhe dirigia, Allan
não sabia.
- O que
aconteceu? – ela perguntou, a voz ainda rouca e fraca, após menos de três
minutos.
- Você não
entrou na Catedral. Quase morreu. Adrien... Ainda não falou qualquer coisa
sobre. – se forçou a responder e enrolou a própria língua para não xingar o
loiro com o palavrão que lhe rondava a mente.
- Ah. – ela
resmungou, e os braços em seu pescoço apertaram. Ela parecia lúcida,
provavelmente como consequência de quase morrer. – To morrendo de frio,
Allan... – E sem dúvida amedrontada. Ela não tremia apenas por causa do frio,
mas por causa da experiência medonha que fora obrigada a reviver, ele não tinha
dúvida, afinal ela lhe contara sobre quando ainda era uma criança e quase se
afogara.
Com cuidado,
tirou uma das mãos das costas dela e passou por debaixo dos joelhos de Arely,
antes de se levantar.
- A mana deixou
umas roupas secas pra você lá dentro mais cedo. – sentiu ela balançar a cabeça
em afirmativa contra seu ombro, mas não falou de novo. A garganta devia estar
doendo como o inferno. Faria um chá enquanto ela tomava um banho quente e se trocava.
Estava esperando
Arely do lado de fora do banheiro, com uma caneca de chá de hortelã aquecendo
suas mãos, quando Adrien e Ruby entraram, quase meia hora depois que a
Mensageira entrara no banho.
- O que
aconteceu? – a pergunta saiu num tom irritado e hostil, que não negava a raiva
que sentia do Observador.
- Arely não
enfrentou o maior medo dela. – ele respondeu, de braços cruzados. Allan travou
a mandíbula, rangendo os dentes, se controlando para não ataca-lo.
- Uma ova. Ela
praticamente morreu afogada. – espremeu por entre os dentes.
A porta do
banheiro se abriu; Arely, usando as roupas que Ruby trouxera para ela, saiu,
olhando com algo de desconfiança para o Observador. Allan estendeu a caneca
para ela, que deu um leve sorriso enquanto a pegava.
- Não, não
enfrentou. Se tivesse, tinha sumido da piscina segundos depois de eu a empurrar
para dentro. O maior medo dela não é se afogar. – nesse momento, ele direcionou
os olhos de bronze derretido para a garota. Arely tomou um gole do chá quente
antes de responder, as sobrancelhas franzidas.
- Pra mim, meu
maior medo sempre foi me afogar. Se não é, não tenho ideia do que realmente
seja. – a voz de Arely saiu um pouco tremida. Allan viu as sobrancelhas de Adrien
caírem com a declaração, enquanto cruzava os braços.
- Você tem pouco
tempo, então é melhor descobrir logo qual é realmente seu maior medo. – ele
então voltou a atenção para Allan e Ruby. – Vamos deixar Arely na casa dela com
os Lycans cuidando da segurança dela e então ir para a Catedral. Ruby precisa
conhecer o lugar como Observadora, e você, como quem vai liderar os Carvalho.
Vamos precisar do seu Beta também.
A frase do
Observador o pegou desprevenido. Arregalou os olhos verdes, enquanto abria e
fechava a boca, antes de finalmente falar.
- Meu pai é o
Alfa dos Carvalho, não eu.
- Mas confio
mais em você do que nele. – Adrien respondeu simplesmente, erguendo uma das
sobrancelhas com descaso. – Você coloca a mão na massa sem medo quando precisa,
ele não.
- Nisso eu
concordo com Adrien, Allan. Você é mais indicado pra liderar o clã. Você bem
dizer tem feito isso desde quando o pappa e o tio ficaram presos nas
burocracias das relações entre os clãs. – Ruby apoiou a decisão de Adrien, para
a sua surpresa. Era óbvio para Allan que ela discordava e muito com o
Observador quando o assunto era Arely, mas de resto, parecia que já pensava
mesmo como uma Observadora: passava por cima de praticamente qualquer um, se
necessário.
- Mas...
- Eles têm
razão, Allan. – Arely começou, uma das mãos tocando seu braço, tensionado e
terminando num punho. Lentamente, deixou o toque tímido dela relaxar seus músculos,
enquanto encarava os olhos cor de chocolate. Havia algo diferente ali. Como
brasas querendo voltar a queimar. – E acho que seu pai vai concordar. Mesmo
porque nem todos irão para a Catedral lutar. – a voz se aprofundou, de um jeito
estranho, que o fez pensar no som de caramelo fervendo e borbulhando. Num
estalo, entendeu que ela falava mais como Mensageira que como humana. – Crianças
não preparadas para a guerra nunca deveriam entrar na Catedral. Nunca mais
entrarão. E alguém precisa garantir a segurança delas aqui, porque nem todos os
Vampiros e Bruxos vão para a Catedral. – no começo, havia um leve sorriso
enfeitando os lábios dela. Ele tinha sumido. Lentamente, ela virou a cabeça até
encarar o Observador. – Não é mesmo, Adrien?
Allan sentiu a
mão em seu braço ficar tensa, as pontas dos dedos se fincando em sua pele. A
temperatura dela também subira. Era como se ela queimasse por dentro. Arely escorregara
lentamente para o meio das vozes e sua insanidade devido à falta de controle e
ele sequer percebera.
Estava ficando
pior.
Ergueu a mão
contraria ao braço e segurou a tensa da garota. O ato a fez olhar para ele.
Tirou a mão de seu braço e com cuidado, antes de puxar Arely devagar em sua
direção, até passar um dos braços pelos ombros dela. Ela relaxou contra ele.
Voltou a atenção
para Adrien. O maxilar do Observador estava frouxo, e o olhar em seu rosto
parecia, na opinião de Allan, assombrado. Segundos depois, percebendo que era
observado, o loiro fechou a expressão.
- Vamos. Temos
de correr. Arely não tem muito tempo.
Enquanto os
outros iam na frente, Allan voltou para a cozinha e deixou a caneca vazia na
pia, pensando quais pecados Adrien escondia e que Arely o fazia confrontar.
Ruby lhe contara
sobre mais cedo. Que como Arely falara sobre os outros Mensageiros que Adrien
encontrara e o papel dele em suas mortes e transformações. Aquilo sobre
crianças na guerra fora mais contido. Mirado para acertar, e não berrado para
que todos soubessem. Era como se as vozes tivessem um propósito, como se
estivessem tão irritadas quanto Arely pela forma como o Observador ocultara
coisas dela, e quisessem fazê-lo pagar por isso.
Num primeiro
momento, ficou preocupado com o impacto disso na Mensageira, desses
conhecimentos e ataques. Mas depois pensou melhor. Ela era forte. Aguentava.
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Syba: Mas não faça piada do meu cabelo... u.ú
Gabi: Tá, tá... ¬¬