Silver stars in my black night
Cold as ice but beautiful
Wandering trough broken shadows
The river of life is all filled with sins
The water I drink is the blood on my hands
Estrelas de prata em minha noite escura
Frias como o gelo, mas belas
Distraído em vales de sombras quebradas
O rio da vida está todo cheio de pecados
A água que bebo é o sangue em minhas mãos
(Blood on my Hands, Xandria)
Algum ponto
entre os séculos XV e XVI, região da atual Pádova, Itália
- Hei, Adrien... Já está anoitecendo e a
mamma está chamando a gente. O pappa abateu um veado, e um dos grandes. – o rapaz de cabelos loiro-claro e olhos azuis
igualmente claro, as roupas simples e quentes caindo folgadas em seu corpo
magro, aproximou-se do outro que terminava de cortar a lenha.
O que acabara de descer o machado em direção
à um toco de madeira apoiou um dos braços no cabo, secando o suor da testa com
a manga do casaco e sorrindo para o rapaz que acabara de chegar. Diferente do
outro, as roupas ficavam mais apertadas em seus ombros e braços, indicando a
constituição mais avantajada. Mas essa era de fato a única diferença: ambos
possuíam os rostos idênticos, e nem sequer o tom de pele, do cabelo ou dos
olhos se alterava. Nem mesmo a altura.
— Bem, Louis, admirável a sua humildade, mas
se você fala que o pappa abateu um veado grande, isso quer dizer que você o
rastreou. – Apoiou o machado num dos ombros, jogando um toco de madeira para o
irmão, se aproximando e batendo no ombro do mais magro. – Você é melhor
rastreador que ele quando se trata de determinar se uma presa vale ou não à
pena.
Louis gargalhou, empurrando a madeira para
Adrien.
— E você é melhor que eu, mas quis ficar aqui
hoje... Podíamos ter encontrado um javali que valesse a pena e o risco se você
estivesse com a gente... – deu de ombros, ajudando o irmão a empilhar a lenha
do lado da casa. Adrien sorria, pegando os tocos lançados e os empilhando.
— Alguém tinha de cortar a lenha para o
inverno que está chegando. E você, Louis... Nós sabemos que você não tem os
braços firmes o suficiente pra um machado... Só pra um arco. – por pouco, um
toco de madeira não o atingiu na cara.
— Obrigado pela parte que me toca, irmão. – sua
expressão irônica e sarcástica fez Adrien rir mais ainda do irmão gêmeo. Louis
atirou o último pedaço de lenha, andando na direção da casa. O gêmeo sorriu,
seguindo logo atrás do irmão.
Louis sorria olhando para o céu estrelado e
mais límpido que nunca com a proximidade do inverno. Sabia que devia estar
dormindo: teria muitas coisas para fazer na manhã seguinte, mas não conseguia
se impedir de estar ali, observando a noite e a borda da floresta. De repente,
uma mão grande caiu sobre seu ombro, assustando-o, mas sorriu tranquilo ao ver
o irmão dois minutos mais novo.
— Viajando como sempre? – Adrien perguntou,
sentando no peitoril da janela, olhando para o rosto do irmão.
— Mais ou menos... – respondeu, vendo a lua
aparecer por entre algumas nuvens que estavam chegando, indicando que podia
nevar. Adrien virou o rosto, sorrindo para a deusa da noite, cheia e brilhante
naquele instante.
— Numa noite como essa, é compreensível... Se
não houvesse tanto a fazer amanhã, talvez você pudesse chamar a Marie pra um
passeio ao luar... – sorriu de forma maliciosa, e Louis socou seu ombro.
— Olha como fala dela! Ela é uma garota
respeitável! – Adrien sufocou os risos para não acordar os pais, mas vontade de
rir não lhe faltava.
E então, começou. A proximidade com a
floresta fazia a vila ter turnos de vigia durante a noite para impedir que
algum animal selvagem atacasse galinhas, cabras, cavalos ou qualquer outro
animal que ajudasse aquelas pessoas à sobreviver.
Mas o quão longo foi o som do berrante
indicou que não era apenas um animal selvagem.
Adrien saltou do peitoril da janela, e seu
pai logo em seguida apareceu, a porta parecendo explodir quando o homem a abriu.
— Adrien, pegue o machado. Louis, o arco. – virou-se
para a esposa. – Fique aqui, Felippa, e tranque tudo. – o homem pegou o facão
que usava para abater definitivamente os animais, os dois filhos o seguindo
para onde já ouviam os sons de gritos de dor e de agonia.
Louis ficou a distância, procurando mirar nos
estranhos atacantes de olhos vermelhos. Mas parecia não importar o quanto
fossem atingidos, eles tornavam a levantar-se, o sangue vertendo por múltiplas
feridas e parecendo ainda mais selvagens e irritados. O mais intrigante era o
quanto pareciam humanos. E como matavam usando apenas as garras e os dentes.
Havia algo de muito macabro vendo todo aquele
sangue escorrendo de suas bocas e espirrando em seus rostos quando atacavam o
pescoço de algum dos habitantes. Para Louis, era quase como o Inferno solto na
terra.
Foi quando ouviu a voz conhecida do pai
gritar. Quando olhou, viu apenas o corpo ensanguentado caído com um daqueles
monstros encurvados sobre ele, sugando seu sangue diretamente do pescoço. Já ia
mirar, mas seu irmão apareceu repentinamente, tão ou mais coberto de sangue que
os estranhos, e com um golpe forte e decisivo, cortou a cabeça do monstro.
Segundos depois, tudo que havia sobre o corpo do pai eram cinzas.
Adrien olhou diretamente para ele em sua
posição oculta dos olhos dos invasores, e Louis pensou ver seus olhos brilharem
de modo estranhamente amarelado, o furor da batalha em cada fibra de seu ser,
sinalizadas pela pose rígida e atenta. Um dos monstros tentou atacá-lo, mas só o
que recebeu foi um súbito soco seguido do machado em seu pescoço. Adrien
virou-se novamente para Louis, e gritou com seus pulmões fortes que podiam, um
dia, tê-lo levado ao exército.
Seu irmão gêmeo era um dos últimos da vila a
estar de pé, lutando contra os monstros, quando Louis deu as costas para o
campo de batalha e correu.
Mas não em direção à própria casa.
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Mande beijo pra mãe, pra tia, pro namorado(a), pro cachorro, pro passarinho, dance cancan, enfim, fique a vontade, a dimensão é sua.
Syba: Mas não faça piada do meu cabelo... u.ú
Gabi: Tá, tá... ¬¬