Então, desculpem o sumiço DE NOVO. Eu até já tinha conteúdo novo preparado, mas acabei enrolando e esquecendo de postar!
A resenha de hoje é de "Cavaleiro Negro", do autor Davi Paiva. Eu... demorei pra terminar a leitura do livro, em parte por conta de como 2018 foi insano pra mim, e nesse tempo entre minha última resenha postada e a resenha de "Cavaleiro Negro", meio que mudei muito e nisso a resenha ficou gigantesca e percebo que fiquei mais chata com muita coisa relacionada à escrita.
Mas... É isso. Vamos lá, pessoas.
Fonte |
Autor: Davi Paiva
Páginas: 357
"- Shakerald!
Esperou por poucos minutos, que pareceram uma eternidade. Até que dois olhos amarelos brilharam na escuridão. Grandes e com fendas como olhos de gato, eles encaravam Fidler com fúria.
- Ó, grande Shakerald, dragão do Covil dos Dragões de Profana. Eu sou Fidler Koogan, do reino de Alfner. Venho humildemente fazer uma proposta." (pg. 180)
Infelizmente,
a resenha não será muito positiva, pelo menos não na maior parte.
Cavaleiro
Negro, de Davi Paiva, conta a jornada de Fidler Koogan, desde o momento que
seus pais foram mortos por saqueadores na estrada e a infância num orfanato,
até suas conquistas após conseguir vingança pela melhor amiga do orfanato,
passando pelos locais mais sombrios para isso.
A ideia geral
da história é muito boa, e realmente a jornada de Fidler é legal e tinha muito
potencial, mas três elementos principais, devido a como foram trabalhados,
tornaram a leitura, pelo menos pra mim, entediante e desinteressante ao final,
à ponto de em determinado ponto do livro literalmente falar “Mas ainda não
acabou?!”, e não de forma boa. Admito também que chegou um ponto que eu estava
lendo mais por obrigação, por realmente querer fazer uma resenha de um livro
lido e não apenas quase-lido, e um pouquinho com esperança de que acontecesse
algo que me surpreendesse (Spoiler: não fui surpreendida).
O primeiro,
que foi o que mais me incomodou e demorou para eu notar o que exatamente estava
me incomodando, foi o desenvolvimento dos personagens, especialmente do Fidler.
Todos são... De certa forma, unidimensionais. Não há real evolução, não há
dilemas morais, nada, pelo menos não dos personagens que a história se foca: se
um personagem foi tachado de criminoso no início, ele vai continuar. Se foi
tachado de exemplo da virtude, também. Corrupto? Totalmente continua corrupto.
Fidler muda um pouquinho, de mais inocente para menos inocente e para cada vez
mais sem escrúpulos, mas só, e feito de tal forma que realmente tanto fazia
como tanto fez pra mim, porque a narrativa não tentava mostrar realmente que havia mais do que os olhos podiam ver.
Isso, aliado
aos vários personagens que aparecem, contribuem pra algo muito ruim num livro
cujo objetivo é justamente trabalhar no final com a questão de justiça,
vingança, corrupção pelos locais sombrios onde se passa em busca dessas coisas:
a gente não consegue se conectar com os personagens, sentir empatia por eles,
se preocupar e torcer por eles.
Quem mais
sofre com isso é justamente Fidler, porque o fato de que eu não conseguia
sentir empatia por ele, apesar de seu objetivo nobre, e o fato de que no final
ele não enfrenta nenhuma dificuldade real para alcançar esses objetivos (apenas
na infância ele tem alguma dificuldade), literalmente me faziam torcer pra ele falhar e alguém matar ele ou
coisa do tipo. Só pra acontecer algum plot twist interessante! (em certos momentos eu quase gritava “Gary Stu” e “Pelo menos o Seiya quase morria antes do poder do protagonismo o salvar”)
Vejam, não
tenho problema com o fato dele estar mais para anti-herói que herói ou meio que
moralmente dúbio (nem tanto), eu amo anti-heróis e personagens
moralmente dúbios e até personagens que podem ser vilões de fato como
protagonistas, mas se o autor não trabalha bem com esses personagens, não usa a
narrativa a seu favor, fica difícil.
Isso me leva
ao meu segundo ponto, a narrativa. Ela é... Confusa de descrever? A voz do
narrador é morta, na falta de uma palavra melhor, e isso ajudou muito na
dificuldade de se conectar com os personagens, não há real tentativa de
descrição de emoções dos personagens, ou de criar certo suspense e expectativa,
não há nada nos faça prender a respiração em preocupação, ela é muito direto ao ponto de uma forma ruim. Cliffhangers fazem
isso, e a história tem muitos e cliffhangers bons de fato, mas a ausência de
uma narrativa que acompanhe faz com que os cliffhangers sirvam mais para
separar cenas que para criar tensão.
Aliado ao
ritmo ao mesmo tempo frenético e corrido de acontecimentos, mas com muitos
eventos que eu particularmente acho que poderiam ter saído da versão fina, como
diálogos longos, a narrativa consegue ser corrida nos acontecimentos contados,
mas arrastada no geral, sem nenhum suspense, um clímax de nos deixar de cabelo
em pé ou qualquer envolvimento emocional. Por conta disso, como eu falei,
acabei lendo por obrigação, porque em certa altura do livro eu já sabia que
Fidler ia conquistar seus objetivos sem nenhuma dificuldade ou real antagonista
que se colocasse em seu caminho.
O autor, tive
a impressão, até tentou construir um certo suspense ao descrever brevemente a
vida e jornada de um samurai da NUR (Nações Unidas de Raysh) que Fidler
enfrenta, mas o jeito como foi feito esse e outros momentos falham e a história
continuaria funcionando perfeitamente sem essas páginas. De fato, a mesma breve
descrição feita dos governantes e nobres do reino onde Fidler cresceu mais ao
final do livro parece uma tentativa de se ajudar a criar empatia pelo
protagonista praticamente esfregando na cara do leitor “ELES SÃO CORRUPTOS,
ELES SÃO MAUS, ELES MERECEM O QUE VEM VINDO”, mas considerando o que se mostrou
no início do livro e os discursos e falas de Fidler, achei uma parte bem...
Inútil. Eram dois momentos que teriam sido ótimas para ajudar a criar conflito
moral, mas não conseguiram e apenas servem como infodump, assim como algumas
outras cenas.
E o terceiro
ponto. O que mais me fez arrancar cabelos. Clichês mal trabalhados no
worldbuilding e nas descrições de algumas lutas e afins que deixaram eu, como
praticante de Krav Maga e entusiasta por estudar história e afins relacionados
a batalhas e estudante de Relações Internacionais que gosta muito de estudar e admirar diferentes culturas, com vontade de arrancar os
cabelos.
Eu entendo
que o autor não quis descrever muito fisicamente os personagens, especialmente
em questão de etnia, pros leitores imaginarem o que quisessem, entretanto, a
forma como outras coisas foram construídas e abordadas no universo com outros
clichês fazem esse ponto falhar por conta do próprio background
dos leitores: quando se fala em Tzu, Watanabe, Oriental e Samurai, tudo junto
ou não, imaginamos um asiático genérico. Uma cidade chamada Churchill? Cheia de
ingleses genéricos. Sabbak, formado praticamente só por deserto? Hm, tem uma
sonoridade meio africana e deserto, então provavelmente o povo deve ser negros
e gente meio que árabe. E ai em Sabbak tem uma província chamada Tirangitres,
que pratica canibalismo.
Percebem o
problema? Ao não se pronunciar mais firmemente sobre descrições físicas, mas
colocando esses elementos em conjunto, o autor acidentalmente coloca todos
esses personagens em diversos estereótipos étnicos porque nós ainda associamos
muito identidade linguística a identidade étnica; globalização como a
conhecemos é algo recente e, com exceções, ainda é bem fácil de você deduzir
com boas chances de acertos a região geral onde alguém ou seus antepassados
nasceram pelos seus nomes devido à como idiomas funcionam.
Queria
abordar melhor também a questão das raças que aparecem, como ogros, elfos, goblins,
demônios e anjos, mas vou me limitar a falar que eles apenas estão lá, foram
criados pelos deuses e apenas reforçam estereótipos já presentes nessas raças
em como são trabalhados. Depois de jogos e livros que distorcem
maravilhosamente bem essas questões das raças e as tornam tão cinzas quanto a
humanidade em si, foi bem triste ver o típico elfos e anjos perfeitos, demônios
maléficos e criminosos, goblins com certas habilidades mas no geral com pouca
inteligência e assim sucessivamente.
As lutas...
Bem. Houveram alguns problemas que estão muito relacionados realmente à como jogos e Hollywood acabam moldando nossas mentes e que é necessário prestar atenção e pesquisar pra luta ficar crível e verossímil; pra mim, que conheço um pouco, foi bem difícil de mergulhar nas batalhas (e de fato tem ficado cada vez mais difícil em qualquer meio porque eu tenho realmente ficado "ISSO NÃO DÁ CERTO!").
Primeiro: machados e similares não são armas cortantes, são armas
contundentes; cortam? Sim. Mas o maior dano que essas armas causam é em quebrar
ossos e afundar armaduras por conta do peso. Segundo: decepar membros não é fácil se você não estiver mirando
exatamente nas articulações; ossos são duros pra caramba e é muito mais fácil
uma lâmina ficar presa do que cortá-lo fluidamente, além de que danifica a
lâmina (explodir um crânio com as mãos também não é fácil). Terceiro:
armaduras servem muito mais contra cortes e perfurações, mas ainda assim é
melhor sempre desviar e não se deixar ser atingido, ou então redirecionar o golpe,
simplesmente bloquear ainda dói PRA CARAMBA, mesmo com armadura (especialmente
porque dependendo do golpe a armadura pode afundar, e aí né...). É sério gente,
é física, o melhor é desviar
o golpe do agressor pra ele não te atingir porque apenas bloquear machuca e dependendo da força do oponente pode te quebrar alguma coisa. E eu to falando isso porque, embora eu não tenha marcado a página, eu lembro de uma luta no livro onde fala que o Fidler deixa o inimigo atingi-lo muito por causa da presença da armadura, e eu só conseguia pensar "Mano, não, isso não é bom, armadura tem limites, caramba".
Por último,
fazendo um pouco mais de spoiler, mas Fidler teve muito pouco problema a nível
internacional após conquistar Ryddle. Simplesmente uma questão de estilo de
luta que é resolvida com um duelo oficial contra dois lutadores de renome.
Mano... Mano... Na verdade eu imaginava muito facilmente algum outro reino ou
província se aproveitando da transição de governo pra atacar. Ou alegando que o
poder vigente era ilegítimo e também atacando. Represálias econômicas e
similares que iriam muito além de aumento nos preços. De certa forma, o autor
focando apenas nos problemas internos da província que Fidler tem a resolver
após conquistar é algo bem... Inocente, de certa forma.
Encerrando,
quero fazer uma breve comparação: pensem em Death Note sem L ou Near e Melo
caçando e contrapondo Kira e criando dilema mortal. É essa a sensação em
Cavaleiro Negro: um Kira um pouquinho melhor moralmente, que passou alguns sérios problemas na infância e adolescência e que estudou mais ao
invés de gênio desde o nascimento, mas sem nenhum desafio de fato ou quem o
enfrente de igual pra igual enquanto tenta impor sua ordem. Ainda é uma
história boa, mas entediante, porque nada realmente desafia o leitor em quanto
a que lado escolher em uma história que procura ser moralmente dúbia em vários
aspectos.
Classificação Final:
Eu adorei a resenha, quero ler esse livro!
ResponderExcluirGriffe Atacado
Fabi, talvez seja um livro mais pra você! :) Espero que leia e goste, mas realmente não era pra mim n.n'
ExcluirOlá! Acabei encontrando a sua resenha lá no Skoob e resolvi vir comentar aqui no seu blog.
ResponderExcluirEsse livro é de um colega autor e o li também, e caramba, eu compartilho de tantas opiniões suas nessa resenha. Na minha resenha também disse que o Fidler é Gary Stu e é tão bom ver que não fui só eu quem percebeu isso.
E confesso que igual a você eu quase larguei o livro, mas pelos mesmos motivos eu terminei. Eu tinha uma resenha para fazer!
Mas, sério, esse livro é uma decepção real. Até porque ele tinha potencial para ser bom, mas acabou se perdendo.
Parabéns pela resenha maravilhosa.
Beijos!
Blog me sacaneando, não tinha recebido aviso do comentário haha xD
ExcluirSim, é muito ruim o livro ter nos decepcionado, porque como tu disse, tinha potencial. :/
Muito obrigada pelo comentário, Anelise! <3
Beijos!