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24 dezembro 2018

Construção de Mundos: Usando o Mundo Real como Base

Faz um bom tempo que tenho essa ideia, essa vontade, de fazer postagens sobre construção de mundos. Posso não ter muita coisa publicada ou mesmo terminada, mas em algumas conversas de grupos de escrita que envolviam construção de mundo eu usava exemplos do que fiz em algum de meus universos e recebi retornos altamente interessantes que "plantaram" a ideia de falar, de certa forma, sobre o meu processo criativo-construtivo; o mesmo é beeeem bagunçado, sem ordem específica, mas tentarei fazer uma evolução e uma ordem bem legal pra todo mundo entender o que envolve construir mundos.
Então... Vamo que vamo?

Construção de Mundos

Uma das coisas que mais aprendi em meus anos escrevendo e criando mundos, seja em fanfics, seja em textos originais, foi a importância de se conhecer o mundo real para se conseguir criar um universo envolvente, crível e verossímil. Diria, inclusive, que é um pré-requisito: Os melhores livros que li, os que mais me marcaram, não apenas possuíam uma boa narrativa e um plot instigante, como era visível o domínio do autor sobre o universo criado e as influências existentes, fossem elas mais óbvias ou não.

E por "mundo real", refiro-me à tudo na história do planeta: Teorias do surgimento do universo e sobre evolução, mitos do mais diversos povos e suas histórias e até mesmo culinária. Tudo.

fonte http://conceptartworld.com/inspiration/dune-concept-art-and-illustrations-i/
Fonte

Tomemos por exemplo Duna de Frank Herbert. Vemos uma organização feudal de um Império Galáctico, uma instituição independente onde as famílias do Império possuem ações, e um planeta desértico que é a única fonte de uma especiaria extremamente cara e muito procurada, o melange, e habitado pelos Fremen. Esses são os elementos de maior destaque para se entender o universo.

Sem entrar em muitos detalhes, lendo o livro vemos o envolvimento de conhecimentos de biologia e ecologia na construção de Arrakis, de política e história para planejar o Império e inspirações profundas em povos árabes e de desenvolvimento tecnológico para a construção da cultura Fremen. Essas são algumas das influências do mundo real que primeiro notamos, e existem muitas outras, das descaradas às mais discretas. O resultado é um universo bem construído e amarrado que pode muito bem ser o nosso futuro.
E estou deixando de fora a parte onde as crenças Fremen e os atos e objetivos das Bene Gesserit guiam a história e definem parte central e integral do plot, porque no momento não quero falar sobre como o mundo construído pode se entrelaçar com a história contada.
Percebem o que quero dizer, a importância de se compreender e conhecer o mundo real para se escrever ficção mesmo quando a historia não se passa no mundo como conhecemos? E qualquer ficção, mesmo as mais simples: Eve e Adam, por exemplo, é pequeno e bem menos ambicioso em construção de mundo comparado a tantos outros livros, mas percebe-se o conhecimento da autora sobre o mundo real na utilização da genética e da biologia e na abordagem dos sentimentos.
Inspirar-se no mundo real provoca reconhecimento e críticas e maravilhamento nas misturas. Critica o real ao mostrar o mesmo de outro ângulo, enriquece a história e dá suporte ao autor na escrita, narrativa e todo o mais necessário.
Um universo bem criado, de regras bem definidas e história corretamente ancorada no criado agrada e atrai o leitor mesmo que boa parte não apareça com clareza, como os efeitos da gravidade: ela está ali, influenciando fortemente nosso mundo, mesmo que tantos sequer saibam de suas leis e todo o mais, age sem que reconheçamos. É esse o efeito de um universo bem criado: sem ele a história não é o que é, mas ele não precisa ser totalmente explicado para isso.
E, bem, a melhor forma de criar um bom universo, é entendendo o nosso mundo, seja porque o céu é azul ou estudando as diferentes danças ao redor do mundo e suas funções culturais.
E não importa se esse universo começa grande ou pequeno. Crônicas de Nárnia começou com um único conto, "O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa", e à partir disso, bem, Lewis expandiu maravilhosamente, falando desde a criação de Nárnia em "O Sobrinho do Mago" e o seu fim em "A Última Batalha". A Terra-Média de Tolkien, então, iniciada com "O Hobbit" e expandindo para "O Senhor dos Anéis" e toda a história desse mundo contada em "O Silmarillion" e tantos outros textos.
Aqui, menciono um de meus próprios: o universo cyberpunk e space opera de Cães de Caça, onde comecei com um único conto relendo Chapeuzinho Vermelho, sem muitas pretensões quanto às razões por trás dos pseudônimos e nomes ridículos dos planetas - Floresta Negra é ridículo para um planeta, admitam. Hoje em dia não apenas tenho desenvolvida todas as relações entre os personagens e as razões de Lobo Mau, como também cheguei a um "consenso", por assim se dizer, da história dessa galáxia e como ela chegou ao ponto mostrado em Cães de Caça. Entendem o que quero dizer com "não importa se esse universo começa grande ou pequeno"?
Esse é meu primeiro e principal conselho para todos vocês que "ouvem o chamado da escrita" e que acreditam que precisam criar também o universo onde a história se passa: estudem e aprendam de tudo que puderem. Evolução, astronomia para diferentes povos, história das especiarias, a cultura de cada povo, não importa o quê, mas pesquisem. O que cair na mão de vocês, estudem.
E quanto mais "incomum" melhor. E por "incomum", digo inspirações que não estão relativamente saturadas de tanta reutilização; não esqueçam das saturadas, mas voem longe, aonde nenhum homem jamais esteve: tribos africanas, história da Oceania, culturas asiáticas, religiões nativo-americanas. Vão onde quiserem e tragam para o seu universo.
E à partir da próxima postagem, irei dar minhas próprias dicas de como entrelaçar tudo isso e tecer seu universo!
Até lá!

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