- Desde quando temos mestiços de humanos nas
bases? – se a voz de Tyvan era cheia de desprezo, a daquele Lobisomem puro
era o desprezo na sua máxima expressão. Embora fosse apenas o tom que me
dissesse isso. O rapaz falara na língua própria que os Lobisomens costumam
usar, que é um tipo de variante do norueguês arcaico. Eu só aprendera o básico
nas aulas de Língua das Raças, portanto afirmo com orgulho que entendi somente
uma ou duas palavras – humano e base. O resto era mistério. Acho que vou me
ferrar até aprender o dialeto usado pelos Lobisomens...
- Desde
quando é isso ou ter um Lobisomem descontrolado matando à torto e a direito e
dando motivos para os humanos tentarem acabar conosco pelos mesmos motivos que
nos caçaram na Idade Média. – a voz de Joshua ecoou com um tom de repreensão,
em minha língua-pátria, o português, o qual foi entendido perfeitamente pelo
outro, considerando o quanto sua expressão azedou – deixando óbvio que o uso
daquela variante de norueguês arcaico foi somente para que eu não entendesse –,
para em seguida olhar na direção do major com uma mistura de rebeldia, surpresa
e respeito. Mesmo ele, com toda a autoridade que exalava, respeitava Joshua.
E eu
entendo. Afinal, autoridade não vale nada se você não for respeitado.
“Estou gostando mais ainda de Joshua...”
A fera não
era a única...
- Não é
porque o seu clã domina toda a sociedade Lobisomem atualmente e você é o
próximo na linha de sucessão que vai poder fazer o que bem entender no Fenris
Fenrir, Davi. A partir do momento que colocou os pés aqui, como
recém-Transformado, para aprender a domar a sua fera interior, você é somente
mais um Lobisomem. Ser um Kupfer, uma Asimí ou um Sonnenblume – nesse ponto
Joshua lançou um olhar para Luís, que deu de ombros – significa nada. Enquanto
você estiver aqui, seu clã de origem é somente um nome. – o final de sua fala
foi afiado como uma faca, e percebi o nomeado Davi estremecer com a fala de
Joshua.
A fala do
Major me fez lembrar de minha aulas sobre os Lobisomens. Fazia uns dois séculos
o clã dominante era os Kupfer, cujo ramo principal de puros de onde os seus
Alfas vinham tinham como características os cabelos e olhos de tom acobreado.
Davi era puro com cabelos e olhos acobreados com autoridade e inteligência suficiente
para um líder – e Joshua afirmara que ele era o próximo na linha de sucessão.
Ligando A mais B, eu só podia deduzir que Davi era o próximo Alfa dos Kupfer.
Isso explicava sua atitude em relação à mim. E explicava como entendia o
português. Eu não estranharia se ele fosse fluente em no mínimo dez línguas –
seu futuro cargo exigia.
O
desconcerto de Davi durou só alguns segundos. Logo, um sorriso jocoso surgiu
enquanto voltava a me olhar.
- Não é a
presença dele aqui que me preocupa tanto... É o depois, se ele sobreviver. –
ele fez questão de falar em português, me analisando para descobrir que efeito
a frase teria. O sotaque era leve, quase inexistente.
“Se ele sobreviver? Acho que quero mostrar
pro senhor herdeiro que o mestiço aqui não é tão fraco assim...” Eu podia
enxergar os olhos dourado-puro semicerrados, raiva e uma chama de ódio
brilhando em seu interior, a saliva escorrendo mais abundante pelos dentes
cerrados com a vontade de lutar. Eu tive que lutar e muito contra o instinto
primal que minha fera despertou. Tão logo eu sentira sua vontade de lutar, de
matar, eu quis fazer aquilo. Ela me influenciava de forma muito forte... Nossas
vontades e espíritos estavam mesclados demais: éramos dois lados de uma mesma
moeda.
- Nenhum
clã vai aceitar um mestiço com um humano. Não com uma mistura tão recente;
exceto se descobrirem de qual clã ele tem sangue. – o sorriso jocoso sumira,
ainda em minha língua. Seus olhos dourado-cobre me analisaram. Eu pude sentir
não apenas Davi, mas a sua fera me esquadrinhando, procurando por alguma
fraqueza que estivesse exposta.
Tive
vontade de rosnar, encorajado pela minha fera, mas resisti. Eu sabia, mais pela
minha educação humana que qualquer outra coisa, que aquilo provavelmente faria
Davi pular na cama e me atacar com aquelas garras. E com os caninos triplos nas
duas arcadas que eu vislumbrara quando ele falou. Provavelmente a única coisa
que impediria ele de arrancar minhas tripas pela garganta seria a coleira. Mas
ele ainda podia me abrir as costelas arrancando o meu esterno, então só mantive
meu olhar firme, até sentir a mão de Joshua em meu ombro. O olhei, um pouco
surpreso.
- Qualquer
clã vai aceitá-lo se ele demonstrar que tem o que quer que um dos clãs procure,
Davi. – o Major me olhou de novo, sorrindo, antes de andar na direção de Davi,
começando a guiá-lo para fora do quarto. Ele não falou até estar fora do
quarto, mas Davi virou o rosto umas duas vezes antes de sair para me lançar um
olhar mesclado de raiva e aviso.
“Joshua acabou de se transformar no meu
herói.” Uma pausa. “Eu jurava que o
tal de Davi ia avançar com as garras direto no nosso coração... Você vai deixar
as unhas crescerem também, não vai, Amadeus? Odeio me sentir tão indefeso
quando nessa fraca forma humana...”
Não
consegui me impedir de rir com o pensamento desordenado da minha fera. O tom de
animação me surpreendeu como se de repente uma criança estivesse me implorando
por um doce. E eu conheço bem crianças implorando por doces. Ah, se conheço...
Senti um
olhar me analisar, e voltei minha atenção para Luís. Os olhos dourado-claro me
observavam, piscando de seu modo curioso. Inclinei de leve a cabeça, num gesto
interrogador de por que ele me olhava daquele jeito.
- Você se
controlou bem. À menos que a sua fera esteja dormindo ou seja calma demais, ela
provavelmente provocou algo em você contra Davi. A minha tentou me convencer a
atacá-lo! – riu no final e empurrou de leve o meu ombro. Sorri em resposta,
balançando a cabeça.
- A minha
também queria atacá-lo. Resisti com muito custo, e foi só por lembrar as
possíveis consequências que rosnar ia gerar pra eu me controlar. – Luís franziu
as sobrancelhas e abriu a boca para falar, mas fui mais rápido. – Nunca
imaginei que estudar para ser diplomata ia me ajudar a seguir como Lobisomem. –
com minha última frase, Luís gargalhou.
- É, não
tem jeito! Vocês dois iam acabar se conhecendo e não se bicando muito, se você
nunca se transformasse! – ele se levantou e me ajudou a arrancar os fios e
agulhas ligados e espetados em mim. Quando o último saiu, me levantei,
cambaleando um pouco, e antes de me firmar por completo, Luís jogou um braço
pelo meu pescoço e me arrastou na direção da porta. – Vamos lá! Hora de uma
excursão pela base, e depois te levo pro nosso quarto! – hein? Nosso? Foi a
minha vez de franzir as sobrancelhas.
- Como
assim, nosso quarto? – Luís parou, os olhos e dedos concentrados em digitar o
código para abrir a porta no painel touch-screen. Ele me olhou e sorriu.
- Você é
um recém-Transformado, e eu sou o veterano sorteado por Joshua para te vigiar e
ajudar a controlar a fera e no que mais você precisar de ajuda pelo próximo ano.
Por causa disso, vamos ser colegas de quarto, e provavelmente continuar como
colegas de quarto depois disso.
“Contanto que ele faça só isso mesmo...” A
fera rosnou de leve, e me controlei para não rir.
Pra eu
ficar feliz mesmo, só me falta falar com Eliana agora...
A enfermaria
ocupava os dois últimos andares do prédio por inteiro, um carpete branco
cobrindo o chão e abafando nossos passos. As paredes eram todas de metal claro,
prontuários eletrônicos em interfaces touch-screen flutuando nas portas,
preenchidos ou não dependendo se os quartos estavam ou não ocupados.
Estávamos
chegando ao elevador quando as portas de metal se abriram num zumbido mais suave
que o do meu quarto, e uma maca flutuante com um porco do mato gigante e marrom,
as presas inferiores se erguendo ameaçadoras, uma delas quebrada no meio como
uma cicatriz de guerra, um exoesqueleto preto com conexões verde-folha cobrindo
as costas e pernas, a traseira esquerda coberta de sangue, entrou na
enfermaria, empurrada por um homem alto e mais avantajado que Davi no sentido
“músculos”; ele tinha uma cabeleira vermelha que parecia fogo esvoaçando na
cabeça, olhos verde-folha e estreitos, a pele morena e lisa, com poucos pelos,
com um exoesqueleto das mesmas cores do que cobria o porco do mato, um centro
de controle de armas e exoesqueleto e um monitorador de sinais vitais nos
antebraços. Seus pés eram virados pra trás e sangue seco o cobria da testa até
o queixo do lado direito do rosto.
O cheiro
do sangue era férrico e doce, e deixou a mim e a fera enjoados. Não o sangue em
si, mas algo mais além do cheiro de sangue. Tinha algo além que eu não conseguira
identificar, mas que eu não gostei.
- Tyvan,
seu lobo pulguento, aparece logo! – o médico saiu de um quarto pelo qual eu e
Luís tínhamos passado, os passos apressados na direção do homem e do porco.
Conforme o homem falava, vi que todos os seus dentes eram pontudos – Uns
malditos Vampiros me emboscaram no caminho pra cá, quase não consegui fugir! –
Tyvan se aproximou, examinando a pata coberta de sangue do porco. – Os
desgraçados quase arrancaram a pata do Guaraci! – o homem continuou falando
sobre a tal emboscada, até que Tyvan rosnou alto o bastante para parecer um
leão rugindo, calando o outro cara.
- Vê se
pára de falar por cinco minutos, Curupira. Eu vou cuidar do Guaraci, fazer os
testes pra ver se ele não foi infectado e todo o mais. – Curupira continuou em
silêncio, os lábios apertados com raiva. Tyvan deu um olhar para ele, e ergueu
uma sobrancelha. – Depois dou uma olhada nisso aí. – Apontou com o queixo para
a testa do homem. Olhei para o homem de cabelos vermelhos um pouco surpreso,
não acreditando que eu estava diante do Curupira sobre o qual eu lera e ouvira
nas aulas sobre as raças – mesmo com os pés invertidos provando que era ele sim.
Ele era o
guardião da Floresta Amazônica, um guia das demais raças no território, e um
vigia contra as raças mais... Indesejadas, por assim dizer. Ele era forte e
lutava contra dez inimigos não-humanos facilmente. Além disso, era especialista
em armadilhas. Era difícil acreditar que tinham emboscado-o. Ainda mais
Vampiros, que cheiravam forte até mesmo para humanos.
“A emboscada foi muito bem feita...” Concordei
com a fera com um resmungo.
Tyvan
guiou a maca para um dos quartos, a porta se abrindo com um comando de voz e
fechando assim que ele passou. Assim que o porco do mato não estava à vista,
Curupira pareceu reparar em mim e em Luís, e sorriu de leve.
- É ele,
Luís? – acenou com o queixo para mim, e o Lobisomem do meu lado riu enquanto
respondia afirmativamente. – É melhor treiná-lo bem. Iara ficou curiosa por
conhecê-lo. – olhou para os lados e então se aproximou, sussurrando. – Mais
ainda do que o herdeiro Alfa dos Kupfer, e olha que eles tem um acordo de paz
que ela renova à cada Alfa...
Luís
assoviou com um tom surpreso.
- Melhor
Davi não ouvir isso. – não foi a voz de nenhum de nós que disse isso.
Era uma
voz de tom melodioso, mas afiado, quase como alguém que dá uma ordem disfarçada
de sugestão, com um sotaque um pouco carregado. Era uma voz de mulher. E de
mulher inteligente.
Enquanto
nossas cabeças eram atraídas na direção da voz, que vinha do quarto que Tyvan
saíra quando Curupira chegou, o cheiro nos alcançou graças ao sistema de
ventilação. Era uma mistura de orvalho,
gengibre, baunilha e leite. Era atraente, mas com arestas afiadas e venenosas,
como uma bela planta carnívora.
E ela
mesma podia ser descrita assim.
O cabelo
era loiro-platinado, liso e longo, e ela tinha amarrado-o num nó que só
mulheres conseguem fazer sem a ajuda de grampos ou qualquer coisa assim, com
alguns fios caindo no rosto de pele quase invernal. Os olhos eram
dourado-claro, mas com algumas gotas de prata mais no exterior da íris, e o
olhar num todo, afiado como uma navalha, penetrando direto em meus pensamentos
para destrinchá-los. Ela devia ser um ano mais velha que eu, e era alguns
centímetros mais alta também. A regata branca e a calça moletom cinza não
faziam nada para esconder o corpo atlético e afiado como uma adaga para avançar
rapidamente, matar e então retroceder. Estava descalça, o corpo numa posição
que indicava preparação para o que eu acabara de descrever, acentuado pelas
unhas de dois centímetros e meio de comprimento, e nem mesmo a coleira tirava
dela o ar quase aristocrático que emanava. Ela, e sua fera, deviam ser rainhas
na caça e no que mais ela fazia.
Ela andou
na nossa direção com passos leves que mal amassavam o carpete, lançando um
breve olhar indecifrável na minha direção, um leve erguer de lábio que
demonstrou sua resistência em rosnar, antes de seguir seu caminho adiante,
passando direto pelo elevador. Conforme ela se aproximava de mim e cruzava a
minha frente, os pensamentos da minha fera ficaram mais fortes, intensos e se
separaram quase completamente dos meus.
“Agarre-a.”
Hein? Você pirou? Ela vai arrancar o meu
couro sem esforços com aquelas unhas...
“Agarre-a. Estou falando sério, essa fêmea é
A fêmea. Se você não agarrá-la agora, eu vou me vingar na próxima vez que você
se transformar...”
Rá! Como se eu fosse deixar você tomar o
controle total pra isso! Além disso, sou novo demais pra morrer. Agora,
cale-a-boca.
Aparentemente,
isso bastou para fazer minha fera ficar quieta. Ou talvez a garota já estivesse
longe demais e ele tivesse decidido que já era tarde.
Olhei para
o lado e vi o que provavelmente era um reflexo de minha expressão em Luís: ele
seguia a garota com os olhos, o queixo caído, um brilho de desejo no olhar e
uma expressão de quem parecia lutar consigo mesmo. Mais um pouco e teria baba
escorrendo por seu queixo.
Ouvi
Curupira rindo, e nós dois nos viramos para ele. Discretamente, passei minha
mão no queixo para garantir que eu não tinha babado. Foi um alívio descobrir
que não – mas cheguei perto.
- O que
nos infernos acabou de acontecer? – balbuciei para ninguém em especial, e
Curupira se dignou a responder. Sério, ainda bem que aquela garota já estava
afastada... Eu não sabia se ia conseguir controlar minha fera – e à mim mesmo –
por muito tempo...
- Isso,
meu caro mestiço, foi a incrível atração que as Lobisomens do clã Asimí exercem
sobre os machos da sua raça! – ele continuava rindo, resmungando algo sobre “Eu
devia ter gravado isso...”, o que me deixou muito tentado a terminar de
arrebentar a cara dele – a fera apoiar a ideia veementemente só pra ter algo
que socar não ajudou no meu autocontrole.
Eu tinha
estudado sobre esse clã. Era o único clã formado apenas por fêmeas de
Lobisomens. Eram, basicamente, as Amazonas da lenda grega. Eu lera sobre a
incrível atração que elas exerciam, mas não tinha acreditado muito... Rá! E
agora, eu experimentara essa atração em primeira mão... Droga.
- Eu não
sabia que a herdeira da Alfa das Asimí era tão bonita... – Luís resmungou, em
seguida dando tapas no próprio rosto que deixaram a pele vermelha. Antes que eu
pudesse sequer pensar em ficar surpreso por saber que a Lobisomem que acabara
de passar também era a próxima na linha de sucessão de um clã, Luís agarrou meu
braço num aperto de aço e começou a me puxar para o elevador. – Até outra hora,
Curupira. Vamos, tenho de te mostrar os campos de treinamento e te informar das
regras da base antes de escurecer... – enquanto a porta do elevador se fechava,
Luís olhou para o bracelete-relógio no pulso direito. – E também temos de
passar nos laboratórios de tecnologia... E temos só três horas... – o elevador
começou a se mover. – Droga.
O elevador
parou no último andar, que Luís disse ficar no subsolo e que conectava os três
prédios que formavam Fenris Fenrir, além das pontes de vidro. Alguns Lobisomens
subiram e desceram ao longo dos andares, mas nenhum continuou até o subsolo.
Todos, sem exceção, me olharam com um misto de curiosidade e raiva – eu era um
mestiço com humanos, afinal... E uma das coisas que aprendi primeiro com minha
mãe – que nem tive oportunidade de falar ainda – é que, dentre todas as raças,
Lobisomens são os que mais possuem raiva acumulada contra os Humanos, devido às
perseguições desde a antiguidade e das torturas que sofreram na época da
Ascensão, além do desprezo por sermos completamente incapazes de usar magia,
por nós mesmos termos caçados aqueles que eram capazes por puro medo do
diferente.
Embora ela
tenha me dito também que eles possuem certa raiva dos Elfos, acho que mais por
incompatibilidade de gênios do que qualquer outra coisa, e ódio mortal dos
Vampiros – mas desconfio que isso é algo geral às raças – que nunca se limitaram
a sugar sangue apenas dos Humanos e por possuírem, até hoje, um prazer macabro
em lutar contra os Lobisomens. Não sei onde exatamente a rixa começou – espero
aprender, agora que vou ter total acesso à história das Raças, ou ao menos da
que faço parte – mas é antiga. Muito antiga.
Descemos
num saguão de teto alto, que me fez imaginar a que profundidade eu realmente
estava, com o chão acarpetado de cinza-chumbo e paredes de um metal
ligeiramente mais claro, completamente vazio. Não tive tempo de contar antes do
Lobisomem magrelo com pinta de espião me puxar para um dos corredores, mas no
mínimo seis saíam do saguão estéril.
O corredor
não era muito diferente, pontuado por portas à intervalos desregulares, pelas
quais passei muito rápido para ler as identificações acima, e outros corredores
que pareciam seguir infinitamente. A impressão que tive era que eu passava por
uma porta e por um corredor...
- As salas
onde aprendemos a nos controlar ficam aqui, no subsolo. – Luís virou em um
corredor de repente enquanto falava, e continuou andando e falando. – Assim
como os laboratórios e as salas das poucas aulas teóricas. Os campos de
treinamento e os dormitórios ficam nos prédios. – por um momento, virou o rosto
para me olhar. – Primeiro vamos passar nos laboratórios tecnológicos;
precisamos pegar o seu anel de identificação, configurado com os mapas da base,
seus dados, seu DNA e todo o mais que vai precisar daqui pra frente. – enquanto
falava, ele ergueu a mão esquerda, o que me fez reparar que um anel vermelho
pôr do sol repousava no dedo médio, no formato da cabeça de um lobo monstruoso
envolvendo a primeira falange quase completamente. – Cada um já possui um ao
chegar numa base, e as cores indicam o clã. – atravessamos outro saguão, não
tão vazio como o outro, embora os Lobisomens ali mal tenham nos reparado,
ocupados demais revisando dados em interfaces espectrais ou falando no dialeto
próprio uns com os outros, a grande maioria usando jalecos brancos, alguns com
pingos de substâncias não identificadas – digam o que quiserem, Lobisomens
também são cientistas, e muito bons por sinal – e continuamos andando por
corredores, agora bem mais movimentados. – Para Lobisomens como você, sem clã,
a cor padrão é dourado-claro. – me olhou por um instante, parando de repente
diante de uma porta – Depois vou passar com você todas as cores. Se quiser
sobreviver sem irritar todos os Lobisomens da base, é melhor decorá-las.
Ele já ia
digitar algo na interface da porta, mas eu tinha de demonstrar que não era
totalmente ignorante – eu sabia as cores de boa parte dos clãs. Minha mãe não
ensinava História das Raças à toa, e eu já dominara tudo que era ensinado sobre
os Lobisomens em Cultura das Raças, para a minha sorte.
- Já sei
boa parte das cores. Cobre para os Kupfer, prata para as Asimí, vermelho pôr do
sol para os Sonnenblume, azul-safira para os Kapuyt, azul meia-noite para os
Gisher, verde-outono para os Vosien, branco para os Zuri... – recitei de cabeça
os primeiros clãs que me vieram à mente, enquanto também buscava informações
sobre cada um. Luís me deu um olhar crítico.
- Ok,
então... Pequeno teste com as características de alguns clãs... – ele deu uma
pausa e se virou para mim. Teste surpresa... Que coisa linda... Pelo menos era
sobre o assunto que eu já tinha dominado. Eu teria me ferrado bonito se as
perguntas fossem sobre os Totens ou os Elfos... – Kapuyt.
- Cabelos
negros, olhos dourados com heterocromia incompleta de azul-safira, pele clara.
Raciocínio rápido, boa memória, curiosos e inventivos. Grande maioria de cientistas,
biólogos e inventores. Pouca ocorrência de magia. – Luís quase sorriu. Os
Kapuyt não costumavam serem mencionados porque os Lobisomens queriam manter
seus mais geniais cientistas bem escondidos. E sinceramente: eu não sabia muito
além do que tinha dito.
- Zuri.
- Cabelos
de cores variadas, geralmente com mechas brancas ou totalmente brancos, olhos
dourado-fosco, pele variada. Mais mal-humorados que a maioria dos Lobisomens,
mas inteligentes e trabalham bem sob pressão, com alguns casos de magia. Estrategistas,
médicos de campanha, especialistas em tecnologia, pilotos, entre outras
profissões que envolvam tecnologia e magia.
Luís
acenou afirmativamente, enquanto eu refletia que Tyvan provavelmente era um
Zuri. Suas características encaixavam, mas dependia se seus pais eram do mesmo
clã e, em caso negativo, qual clã conseguira predominância para adotá-lo.
Política
Lobisomem. Um inferno quando Lobisomens de clã diferentes decidem ter filhos.
Ou quando mestiços, tipo eu, inventam de aparecer.
- Vosien.
O teste de
fogo: um clã formado totalmente por mestiços e não muito mencionado.
- Cabelos
de tons de castanho, olhos bicolores: um dourado, de tons variados, e o outro
de tons de verde, geralmente outonal, pele parda. Mestiços com Ninfas da Terra.
Neutros em questões políticas, inteligentes, pacíficos, com alto talento para magias
de cura e relacionadas à terra. Médicos, estrategistas, magos de apoio em
batalhas terrestres, especialistas em qualquer coisa que queiram.
O
Lobisomem sorriu, passando um braço pelo meu pescoço e encostando o polegar na
interface da porta.
- Melhor do
que imaginei. Mesmo assim, vamos repassar os clãs e suas cores mais tarde.
Alguns não são divulgados para os humanos... – o metal se afastou com um
zumbido, e Luís me arrastou para dentro do que só posso dizer que era um
laboratório de desenvolvimento tecnológico. Gigante. Movimentado. Do tipo que
dois passos fora do caminho pré-determinado te fazem se perder até alguma alma
caridosa resolver te guiar, porque eram bancadas, instrumentos e máquinas
demais num único ambiente.
Acima de
tudo, era estranho. Quer dizer, eu sabia que Fenris Fenrir era a principal base
militar dos Lobisomens – existiam outras três, menores, uma no norte da Europa,
que antes da base Americana ser construída, era a principal, outra no sul da
Ásia, e outra no centro da África – mas não tinha noção da quantidade de
atividade que ela abrigava. Para mim, o desenvolvimento tecnológico, químico e
biológico ocorria nas nove cidades Lobisomens, em sua maioria. Foi isso que
aprendi. E pelo jeito, aprendi errado – ou foi ensinado errado aos Humanos, ou
nas cidades o nível de pesquisas era ainda maior.
Lobisomens
com faces respeitosas de cientistas loucos, anéis brilhantes com interfaces
espectrais ondulando em seus braços em cores variadas, andavam ou ficavam
parados em bancadas, dados flutuando no touch-screen das mesas e nos espectros,
enquanto ferramentas minúsculas controladas pelos dedos envoltos por luvas
magnéticas e sensíveis manipulavam os sistemas delicados de alguma máquina em
desenvolvimento, enquanto outros mais jovens corriam pelo lugar, levando dados,
café, lanches, levavam broncas ou eram elogiados – os típicos aprendizes e
estagiários; pelo jeito, as coisas não são muito diferentes nesse quesito:
independente da raça, eles são explorados e ficam loucos por causa de seus
professores e orientadores.
Alguns
olhos de diversos tons se viraram para nós brevemente, indecifráveis, antes de
voltarem ao que faziam, enquanto Luís me guiava através dos corredores
espaçosos entre as bancadas, ainda com o braço no meu pescoço, provavelmente
com medo de que eu acabasse esbarrando em algo. E eu não o culpo.
Uma garota
que parecia ter a idade de Luís quase esbarrou na gente ao virar de repente na
quina de uma das bancadas, um par de óculos de proteção em seu rosto aumentando
seus olhos dourado-fosco, escorregando pelo nariz, letras minúsculas parecendo
escorregarem pelas lentes e um pequeno fone em sua orelha ligado à haste por um
fio fino; quando ela ergueu a mão para arrumar os óculos, vi o anel de
identificação, branco, em seu dedo médio; o cabelo cinzento com mechas
completamente brancas cortado repicado e rente à cabeça dando-lhe um ar
ligeiramente respeitável. O topo de sua cabeça batia pouco acima do meu
cotovelo, seu rosto possuía contornos fofos, e seu corpo era magro, parecendo
pequeno no jaleco branco e largo, quase um vestido. Seus olhos tinham um brilho
inteligente, e seu cheiro natural estava mascarado pelo aroma de metal, graxa e
outras substâncias desconhecidas. Um vidro fino com circuitos em vermelho
percorrendo suas beiradas, letras, diagramas e fórmulas flutuando no espaço
interno estava em suas mãos.
- Ooh... Pra
que tanta pressa, Gwineve? – O Sonnenblume ao meu lado perguntou, e os olhos de
Gwineve faiscaram em sua direção.
- Porque o
seu tio está me pedindo para realizar
uma dúzia de tarefas ao mesmo tempo! – ela enfiou um dedo no peito magro de
Luís, parecendo irritada e fazendo jus à fama de mal-humorados dos Zuri, me
fazendo perceber por um instante que seu português não possuía sotaque – ela
provavelmente cresceu na cidade Lobisomem que foi construída na ilha de Marajó
durante a Queda, a única cidade Lobisomem na América do Sul, Rav. Luís parecia
particularmente divertido com a cena, enquanto eu me sentia ouvindo o velho
ditado do meu avô sobre minha avó: Nos menores frascos, não estão os melhores
perfumes... Mas os piores venenos. Se adequava perfeitamente nela – na minha
avó e na garota. – Onde já se viu! Eu construo os equipamentos que impedem os
militares como você de morrerem em
campo! Não configuro anéis de sem clã! Além disso, quem hoje em dia é sem clã?!
– ela provavelmente ia falar mais alguma coisa, mas o rapaz sufocou um sorriso
enquanto seus olhos deslizavam na minha direção. Gwineve franziu as
sobrancelhas e pela primeira vez ela me notou, dando um pequeno gritinho e
pulando sem sair do lugar.
“Bonitinha... Mas, sei lá... Muito irritada
e baixinha... E Luís já está de olho, então... Continuo com a loira.”
Essa é
boa. Minha fera dá palpites sobre namoradas...
Que história é essa de “Luís já está de
olho”?
“Você é um retardado que não presta atenção
nos seus sentidos? O cheiro dele ficou pior do que quando a loira passou na
nossa frente, os hormônios estão explodindo dentro dele! Até a fera dele
concorda com a escolha e está tentando chamar a atenção dela! Aliás, eu não
estranharia se eles já não tivessem algo...”
Outra
coisa me chamou a atenção. E não foi a parte sobre o cheiro de Luís na frente
de Gwineve – que eu decidira ignorar se estava ou não mais forte.
Pior do que quando a Asimí passou? E o
meu cheiro naquela hora...
“Pior do que o dele agora... Você gostou do
que viu tanto quanto eu... Talvez mais...”
E elas percebem?
“Qual seria o sentido de ter um cheiro tão
forte para atrair fêmeas se elas não percebessem?”
Merda.
Joguei a
informação mais recente para escanteio, procurando me concentrar no que estava
diante de meus olhos, decidido à, assim que tivesse a oportunidade, refletir
mais sobre aquela história de cheiro e mulheres...
- Esse
aqui é o Amadeus... – Luís bateu em meu ombro, ainda me mantendo próximo, e a
Zuri aproximou-se um pouco para ver meus olhos de perto, os próprios piscando
em seu rosto fofo lentamente de forma curiosa e surpresa, ficando nas pontas
dos pés.
- Você...
Você é um mestiço... Com Humanos... – ela concluiu, depois de descer o rosto um
pouco para farejar perto do meu ombro. Afastou-se rapidamente, seus olhos
aumentados pela lente ainda piscando com curiosidade. E então ela deu um pulo
animado, e acho que só não bateu palmas por causa do vidro fino em suas mãos. –
Shara já sabe?! Ela vai ficar ansiosa por examinar seu DNA! – ela abriu um
sorriso. – Não sei se você sabe, mas faz realmente muito tempo desde que
tivemos um Lobisomem do seu tipo! A maior parte vai te direcionar raiva, mas
pode ter certeza de que nossos cientistas genéticos, como Shara, vão é ficar
ansiosos por te conhecer! – ela ainda estava animada, os olhos inquietos e
parecendo querer sair correndo.
- Por quê?
– me peguei perguntando, a fera fazendo coro ao fundo.
- É que,
apesar do que dizem, existem muitos Humanos com sangue de Lobisomem e de outras
Raças nas veias, mas ninguém descobriu ainda o que provoca o gatilho pra esse
Humano mostrar características das duas raças, por isso quando mestiços de
qualquer raça com Humanos surgem, provocam tanta comoção! Os geneticistas vão
ficar loucos para comparar seu DNA antes e depois da primeira Transformação com
o DNA de mestiços que nunca se transformaram! Atualmente, é um dos principais
alvos de pesquisa das raças, tentar descobrir o que diferencia mestiços como
você de mestiços que são eternamente Humanos comuns!
Luís riu
ao meu lado, e Gwineve o olhou de forma que considerei assassina.
- Joshua
previu isso, Gwineve. Shara já tem as amostras, e imagino que o anel que você
estava configurando é do cara aqui, então falta pouco. – ele fez uma pausa
pensativa, o polegar esfregando o queixo. – Se bem me lembro, o Major disse que
ela e os demais agiram como “Lobisomens atrás de carne crua na lua cheia”...
- E ela
não me disse nada?! Como ela me deixa de fora de uma notícia
dessas?! – Gwineve estava de novo em sua máxima expressão do lendário mal-humor
dos Zuri. – Seu tio está esperando por você mais ao fundo, você conhece o
caminho! – deu uma pausa, os olhos semicerrados perigosamente. – Agora, com
licença, mas tenho de fazer uma visita aos laboratórios genéticos! – antes de
partir, me deu um pequeno sorriso. – Seja bem vindo, Amadeus, e não ligue para
os idiotas que te insultarem por ser um mestiço! Concentre-se em fazer aquilo
que você nasceu para fazer, e ninguém vai poder falar algo contra você!
Ergui as
sobrancelhas com as últimas frases dela. Era irônico que um Zuri parecesse
querer que eu desaparecesse, enquanto outro me dava boas vindas...
Pensando
bem, Tyvan parecia querer que todo mundo desaparecesse...
O rapaz ao
meu lado voltou a me puxar, um leve sorriso ainda enfeitando seu rosto, e com o
aviso da minha fera, reparei que ele parecia mais feliz também.
- Então...
Qual a história? – perguntei enquanto continuava sendo arrastado pelo
pescoço... Pelo jeito, a coleira é feita de modo especial para, apesar de ser
de prata, não queimar em contato com a pele dos Lobisomens, afinal, nós
realmente somos alérgicos à prata, e nem Luís aparentava sentir algo, nem eu
sentia algo, além daquela sensação estranha de que a coleira parecia cantar em
contato com a minha pele.
Ele me
olhou, piscando meio surpreso antes de falar.
- A
primeira Transformação dela foi no mesmo ano que a minha, na mesma semana, na
verdade... – ele sorriu de leve. – Nos conhecemos na enfermaria... Ela te deu
aquele conselho porque não é uma Lobisomem típica... No começo, a maior parte
das pessoas a insultava, por ser baixinha e sua fera não ter uma aparência
muito ameaçadora... – como alguém com
aquele gênio não tem uma fera ameaçadora? É inconcebível! – Então, teve uma
missão numa das cidades em ruínas, e alguns Gnomos armaram uma emboscada e
atacaram o grupo com bombas de fumaça de nitrato de prata. – Luís fez uma pausa
dramática que me deixou ansioso. Fumaça de nitrato de prata mata Lobisomens
quase instantaneamente, queimando a traqueia e os alvéolos do pulmão e avançando
para a corrente sanguínea, além de queimar as pupilas, os ouvidos e a pele. –
Eles estavam com um novo sistema automático nos exoesqueletos, que com a
presença de fumaça de nitrato de prata, cria uma malha flexível que cobre toda
a cabeça, filtra o ar e permite ao militar enxergar. Gwineve tinha conseguido
implantar esse sistema com sucesso nos exoesqueletos, sem interferir na
armadura de mitril ou em qualquer outro sistema. A inteligência dela salvou a
vida daqueles Lobisomens, e por causa disso ninguém mais a insultou... – ele
sorriu de leve. – Ela fez o que nasceu pra fazer, e ganhou o respeito de todos
os Lobisomens. Ela quer que você faça o mesmo...
Dei um
cutucão nas costelas dele com o cotovelo.
- Você
gosta dela... – murmurei, e ele deu um sorriso culpado, nem negando nem
afirmando a “acusação”, antes de contar um pedaço que eu não esperava.
- Eu
estava nessa missão... A inteligência dela salvou a minha vida, e, embora eu
não compactuasse com os insultos, eu também não a defendia, mesmo tento conhecido-a
na enfermaria e sabendo que ela era inteligente pra caramba... Acho que ainda
me sinto meio culpado... E ela ser tão carrasca comigo não ajuda... – Ele
confessou num resmungo.
Fiquei um
pouco surpreso por descobrir que ele estava na tal missão, mas ele não me deu
chance de falar nada, me puxando para a bancada mais distante, onde um homem de
cabelos de um tom de loiro amarelo que apontava para todos os lados estava
sentado, de costas para o resto do laboratório, inclinado sobre o móvel,
concentrado. Na parede ao lado, uma porta de um metal mais escuro estava
fechada, a interface touch-screen pedindo um código para se abrir.
O
Lobisomem finalmente me soltou para se aproximar do homem, batendo as mãos com
certa força nos ombros largos que esticavam o tecido do jaleco ao máximo. O
cientista pulou de pé e tive a impressão, quando pegou a mão de Luís, que ia
torcer o braço do meu “novo colega de quarto” e falar para ele implorar por
misericórdia. Não era difícil de imaginar aquele cara fazendo algo do tipo.
Ele tinha
a mesma altura do mais jovem, mas provavelmente o triplo de massa muscular; as
sobrancelhas grossas e longas acima dos olhos dourado-claro e as costeletas e a
barba longa o faziam parecer quase um protótipo de homem das cavernas, além de
acrescentarem uns bons dez anos em sua aparência. Antes de ver que quem o
interrompera fora Luís, o Lobisomem olhara ao redor de modo desconfiado, mas ao
fixar o olhar no magrelo, um sorriso enorme e até meio estranho se abriu por
entre o emaranhado que cobria praticamente metade de seu rosto, para então dar
um abraço “de urso” no rapaz – é estranho falar que um Lobisomem deu um abraço
de urso em alguém... Meio paradoxal.
- Luís! Meu
sobrinho idiota, há quanto tempo não vem ver seu tio?! – soltou Luís, os dedos das
mãos grandes se movendo para mexer no cabelo despenteado.
- Na
verdade, você que deu uma de ermitão de novo e se isolou nos laboratórios... Há
quanto tempo não faz a barba? – segurei o riso que quis subir pela minha
garganta quando o mais novo puxou os pelos claros da barba, um gemido de dor
escapando de seu tio.
- Não
puxa! E... Umas duas semanas? – o homem semicerrou os olhos, pensativo, e Luís
balançou a cabeça com ar desolado.
“Acho que tá mais pra dois meses...”
Totalmente de acordo.
- Tio Ben!
A tia Stella vai te matar, e depois
vai me matar, se te ver assim! – Luís
parecia sinceramente com medo. Stella deve ser o típico estereótipo de esposa
Lobisomem que praticamente cospe fogo feito um Dragão quando irritada – que é
praticamente sempre. – Depois que pegar as coisas do Amadeus, você vai pro seu
quarto. Se cuidar. E só sai de lá amanhã. Ou eu conto pra tia Stella. – foi a
vez do mais novo semicerrar os olhos, parecendo ameaçador na direção do
cientista.
Achei, por
um instante, que Ben fosse, sei lá, brigar, falar que ia ficar lá, no
laboratório, ou qualquer coisa parecida. Ele se limitou a fazer uma espécie de
biquinho e começar a digitar algum código na bancada que criou um espectro
protetor no que quer que ele estivesse trabalhando.
- Estraga
prazer... – resmungou, fazendo Luís girar os olhos, antes de se virar para mim,
um sorriso de novo aparecendo por entre os pelos desgrenhados. – Então você é o
nosso mais novo mestiço! – sua mão grande bateu em meu ombro, apertando e me
puxando com ele na direção da porta. – Meu nome é Bernardo, mas todos me chamam
de Ben. – ele digitou algum código na interface, me arrastando para dentro da
sala branca, Luís logo atrás. – Seu anel de identificação está quase
completamente configurado... Falta só alguns dados... – ele olhou na direção do
sobrinho e deu uma piscadela marota que fez um arrepio subir pela minha coluna.
Ben andou
até a porta ao lado da bancada e encostou a mão direita no metal. Segundos
depois, uma luz verde piscou e, enquanto ela deslizava para o lado, o Lobisomem
recuou um pouco e agarrou meu braço, me puxando para dentro da sala. Senti Luís
seguir logo atrás de mim, mas isso não ajudou a subjugar um leve pavor que se
espalhou pelo meu cérebro.
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Mande beijo pra mãe, pra tia, pro namorado(a), pro cachorro, pro passarinho, dance cancan, enfim, fique a vontade, a dimensão é sua.
Syba: Mas não faça piada do meu cabelo... u.ú
Gabi: Tá, tá... ¬¬