Dimensões

23 janeiro 2012

Teorias de Conspiração - Capítulo 28: Cor-de-Rosa

Percebi pelo olhar que a Gnoma estava com muita raiva por eu ter so-brevivido e queria imediatamente corrigir esse “erro” – precisa não, gostei de-mais desse erro...

A Gnoma voou na minha direção, a espada preparada para me estraça-lhar. Eu sabia que não devia sequer deixá-la relar em mim, afinal, eu podia perceber a energia explosiva que a rodeava – feitiço de Guerra, Rashne se ofereceu para me ensiná-los, mas neguei, não fazem o meu estilo, apesar da afinidade, mas quis aprender a teoria – e eu sabia que a energia explodiria no instante que me tocasse.

Quando ela estava muito perto, me atirei por cima dos arbustos e come-cei a correr, buscando algo na minha memória que pudesse me ajudar.

O Djin e a Gnoma vieram atrás, e por muito pouco um raio vindo do Djin não me atingiu.

Contornei uma árvore e corri na direção deles. Não, eu não sabia o que estava fazendo. Estava apenas seguindo meus instintos que me gritavam para esperar até o último instante para começar a cantar um feitiço ilusório que iria me esconder de seus olhos, ouvidos e nariz.

Eles pararam de correr, confusos, enquanto eu continuava cantando, passando por debaixo da espada da Gnoma e do facão de luz negra do Djin, correndo na direção da trilha. Eu tinha de continuar cantando ou eles voltariam a me perceber.

Argh! Maldita raiz!

No instante em que tropecei, parei de cantar e eles me perceberam, correndo na minha direção.

Droga.

Eu não ia conseguir acumular essência suficiente para voltar a lançar o feitiço de Ocultação. Aliás. Eu não conseguiria acumular muita essência pra qualquer coisa.

Me levantei e andei de costas, enquanto o Djin e a Gnoma andavam cautelosamente na minha direção, preocupados com qualquer coisa que eu pudesse fazer. Eu pensava desesperadamente, descartando as opções na mesma velocidade em que vinham.

Se eu não tivesse deixado Savën e Fëna no quarto, minhas chances seriam melhores.

Eu estava cercada de terra. De árvores.

Eu estava em casa.

Precisava usar essa vantagem – não muita, considerando que a Terra me ama. Mas como?

Um plano se esboçou em minha mente.

Era hora de ver se eu já era capaz de voar... Ao menos por distâncias pequenas.

Com cuidado, ainda prestando atenção aos movimentos dos dois à mi-nha frente, arrisquei mexer minhas asas. Segundo vovó, ainda não estavam no tamanho ideal, mas podiam me fazer voar por distâncias curtas. E era o que eu precisava.

Beleza, afinal, eu não tenho a intenção de voar até São Paulo mesmo.

Dei um pulo para trás, batendo as asas e me sentindo livre por alguns segundos enquanto botava distância entre nós, até pousar no chão firme. Agora, com uma distância maior nos separando – embora eles tenham começado a correr na minha direção no instante que tirei os pés do chão – eu consegui mais alguns segundos para acumular essência para usar um feitiço que eu não tivera oportunidade de testar até aquele momento.

Espero sinceramente que ele dê certo, ou vou me ferrar.

Quando senti que o poder quase explodia dentro de mim de tanto contê-lo, finquei as mãos na terra e expandi meus sentidos através das raízes das plantas, tal como papai me ensinara a fazer.

Eu era terra. Eu era árvore.

Eu era a floresta.

E eu não gostava daqueles intrusos.

Fechei os olhos e comecei a murmurar o feitiço que eu elaborara num espaço vago de minha vida – isso é legal na magia, dá pra você inventar à vontade desde que saiba o básico do tipo de feitiço que o que vai ser criado pertence!

O plano era fazer as raízes das árvores se expandirem por debaixo da terra até alcançarem a Gnoma e o Djin, onde iriam ganhar o ar e prendê-los.

E deu certo.

Eu sentia aqueles intrusos se remexendo, inquietos, querendo se soltar do aperto de meus braços, mas eu não deixaria.

Fiz uma raiz pegar a espada da Gnoma e a apertei até que o metal que-brou em diversos pedaços.

Eu poderia usar as raízes para estrangulá-los, mas eu não tinha essên-cia suficiente para gastar nisso. Teria de bastar deixá-los presos ali, até que eu estivesse longe o bastante.

Me ergui, as pernas meio bambas e fracas, ofegante. Meus pulmões não conseguiam oxigênio suficiente. Puts. Gastei mais essência do que pretendia. É, a Terra não gosta muito de mim, ou não tinha cobrado tanto...

Ambos me olhavam com ódio, há alguns metros de onde eu estava.

Virei as costas e comecei a correr.

Mas não fui muito longe.

Ouvi a Gnoma pronunciar uma Palavra de Poder – feitiços poderosos que consistiam numa única palavra e que eu não tinha vontade de aprender pois eram muito perigosos – e então, tudo explodiu às minhas costas.

Gritei enquanto era atirada vários metros à frente. Senti farpas de madeira se fincarem em minhas asas e gritei mais ainda de dor intensa quando a força do ar fez minhas asas se dobrarem e quebrarem.

Caí feito uma maçã podre no chão coberto com restos de árvores, e sen-ti que um pedaço relativamente grande de madeira aterrissara numa das mi-nhas pernas e gritei de novo quando senti meu joelho ser deslocado pelo peso – melhor do que quebrado, mas doía demais.

Era dor demais, se espalhando para cada terminação nervosa do meu corpo. Eu tentei me arrastar para longe, tentando inutilmente chutar o pedaço de madeira pra longe, pressentindo a chegada da Gnoma, mas meus músculos estavam rijos de dor e doíam cada vez que eu tentava me mexer, me fazendo soltar gemidos patéticos em protesto.

E então, senti alguém segurar meu cabelo pela parte de trás com força e puxar minha cabeça, de forma que acabei erguendo parcialmente o tronco, com o pescoço bem exposto. Para minha infelicidade.

A Gnoma me fez olhar para ela, para seus olhos vermelhos de fúria, loucura e raiva, enquanto mostrava uma faca que com certeza ela teria o prazer de usar em meu pescoço.

O Djin estava logo atrás dela, parcialmente desfigurado – com certeza por causa da explosão – e seu olhar derramava todo o seu ódio por mim em camadas frias de dor e exaustão que pareciam apenas aumentar tudo aquilo que eu já sentia até os níveis do insuportável.

Fechei os olhos, aguardando o fim, e lancei uma prece por meu povo ao desconhecido, enquanto sentia ela encostar a faca em meu pescoço e cortar de leve, o sangue escorrendo.

E então, eu senti a terra tremer e abri os olhos. A Gnoma e o Djin perce-beram o perigo e sumiram em uma tênue fumaça, flechas passando por onde eles tinham estava anteriormente. E então, eles saíram da proteção das árvo-res, andando de modo que procurava com os olhos e todos os demais sentidos a presença daqueles dois.

Homens seminus de aparência indígena – mas não eram índios, algo me dizia. Fortes, musculosos e belos. Cabelos negros que esvoaçavam enfeitados com seixos e sementes. Pele morena. Corpos pintados. Usando arcos e flechas que eu sabia que eram letais quando atingiam seus objetivos.

E os olhos que me prenderam como num feitiço. Eu não conseguia desviar o olhar, por mais que quisesse.

Olhos que brilhavam em violeta que oscilava do claro para o escuro como uma ametista bem polida, de muitas facetas, brilhantes e hipnotizantes.

Olhos de Ametista.

E, antes que eu me entregasse à exaustão, um deles se aproximou de mim, os outros reunidos ao nosso redor num círculo, e sorriu.

Era ele que aparecia em meus sonhos, lutando ao lado daquela Fada.


Alguém passava alguma coisa em minhas asas, com carinho, como se já tivesse feito aquilo antes e soubesse onde podia e onde não podia tocar, colocando-as no lugar calmamente, enquanto outra pessoa murmurava um feitiço de cura.

Tentei me erguer, mas a mesma pessoa que colocava minhas asas no lugar apoiou levemente a mão em meus ombros, me fazendo continuar deitada de costas. Abri os olhos, pisquei algumas vezes, e reconheci o cara que aparecia em meus sonhos, deitado do meu lado, não mais tocando em minhas asas, sorrindo de um jeito encantador e parecendo preocupado comigo.

− Quem... Quem é...? – minha boca estava seca e eu não consegui con-cluir a pergunta. Agradeci quando ele me ajudou a erguer um pouco o tronco e me deu um pouco de água, outra pessoa ainda cuidando de minhas asas. Agradeci muito quando o líquido desceu pela minha garganta, tirando o gosto de areia. Enquanto isso, ele ia se apresentando.

− Meu nome, nesse lugar, é Cairu, Fada. – Cairu. Parece tipicamente indígena. Mas porque “nesse lugar”?

− O meu é Stacy. Obrigada aos seus por me salvar. – inclinei a cabeça num agradecimento. – Mas como sabiam onde eu estava e que precisava de ajuda? – eu não resisti perguntar, e ele sorriu com minha curiosidade.

− Eu já sabia que você precisaria de ajuda um dia, Fada. Outra do seu povo me avisou há muito tempo... Eu só precisava ficar atento aos gritos. – ele riu de minha expressão aparvalhada. – O nome dessa Fada era Anastásia. – ele falou, e percebi uma sombra de dor cruzar seu olhar, as peças se encai-xando em minha cabeça.

Minhas visões mostravam Anastásia lutando ao lado dele – embora ele parecesse obviamente mais velho –, e eu lembro bem do olhar apaixonado que tinham um para com o outro.

Mas ela morrera. Não sei como, nenhum livro ou um dos mais velhos fala como. Mas ele sofria por isso. Estava escrito em seu olhar.

− Ela me disse que eu deveria te guiar nos feitiços do meu povo.

Aquilo me provocou um arrepio, enquanto eu voltava a deitar para que continuassem tratando das minhas asas.

− E qual o seu povo? – perguntei, insegura, e ele riu.

− Surpresa.

Sinceramente, estou cansada de surpresas.


Quando Cairu e Caeté – o que estava falando o feitiço de cura – chegaram a conclusão que já tinham feito tudo o que podiam por minhas asas, Cairu me levou para fora da oca onde estávamos.

Era uma espécie de tribo à beira de um rio que provavelmente desaguava no Amazonas, mas não podia ser o próprio porque era estreito demais para ser ele. A maior parte se tratava de homens com os olhos de ametista, desde crianças até o mais velho. Havia algumas mulheres completamente humanas com as Fatum rodeando-as, de beleza estonteante, e algumas meninas. Os meninos chamavam as mulheres de mãe e as meninas chamavam os homens de pai, o que era estranho, porque todas as mulheres eram completamente humanas, como se o sangue daqueles não-humanos não interferisse.

Reparei que muitos botos cor-de-rosa nadavam no rio, e percebi um nadar para a beira. E então, se transformou num daqueles belos homens.

Shit.

Belos demais, Botos, olhos cor de ametista, algumas poucas mulheres completamente humanas e de beleza estonteante...

Eu tinha de vir parar numa vila de Botos Cor-de-rosa?


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Gabi: Tá, tá... ¬¬