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16 agosto 2011

Teorias de Conspiração - Capítulo 4: Um Biscoito da Sorte Azarento Ainda Seria Melhor... (LO)

Cheguei em casa emburrada. Não olhei na cara de tia Verônica, nem de Despertador – eu sei, nenhum deles tem culpa no cartório, mas de certa forma a culpa é deles! Despertador quem me acorda, Tia Verônica quem me dopa com seus pratos deliciosos! Não fosse isso, eu não teria ido para o colégio hoje, ou talvez fosse, mas não teria agido tão idiotamente por estar dopada pelas comidas de Tia Verônica... Enfim, vocês entenderam.

Fiquei sentada de braços e pernas cruzados em cima da cama, e não deixei Despertador subir nela. Ele apoiou a cabeça na beira do colchão, me olhando com os olhos pidões, louco para deitar do meu lado, mas permaneci irredutível. Não estava afim de sua companhia quente e aconchegante. Eu já estava fervendo de raiva; mais calor não ajudaria.



Olhei de forma assassina para o meu travesseiro. Tão maciozinho, com uma fronha com estampa meio psicodélica e art nouveau... A minha cara, diga-se de passagem...

O peguei, olhei-o bem, e, bom... O coitado do travesseiro sofreu minha descarga de raiva...

Simplesmente o destruí. Com as mãos, nada de tesouras ou facões de cozinha. Imaginem a lindeza...

E era uma vez um travesseiro de pena de ganso...

As penas ficaram espalhadas pelo meu quarto. E eu simplesmente não liguei. Eu sabia que minha mãe me mataria, ou bateria tanto em mim que, sei lá, eu ia parar em outra família – assisti muito Todo Mundo Odeia o Chris... Mas... Dane-se! Eu TINHA de descarregar a raiva de algum jeito.

Peguei o Teorias de Conspiração e fiz o que eu melhor fazia: escrevia.


Oi de novo...

Eu vou matar aquele Elfo maldito! – refiro-me ao Sammuel.

O que ele tinha na cabeça pra me beijar? Só porque fiquei pentelhando com ele durante a aula de Biologia?! Ninguém mandou ele sentar na minha frente. Sério. A culpa foi dele!

Pára, Consciência Pesada! Foi ele que começou com aquela história de que tinha algo de diferente em mim, não quis falar e me deixou curiosa! Ele DEVIA TER IMAGINADO que eu insistiria em tentar descobrir! Por acaso ele não sabe que mulheres são insuportáveis quando curiosas?! – sim, eu sei que fico insuportável quando estou curiosa.

Mas, cara... Quem será essa garota com quem meu mano saiu? Eu nem conheço a criatura! Ela que se engrace demais com o Devon sem passar pela minha aprovação, juro que arranco os cabelos dela! – Sim, eu tenho que apro-var a “namorada” do meu irmão, senão, ele sabe que vou transformar o namoro num inferno. Hiahiahiahuahuahuahua! Sim, eu sou de Gêmeos e o Saga de Gêmeos vive baixando em mim!

Mas, sabe de uma coisa, Teorias...

O Sammuel tava estranho. Sombrio demais... Cara cansada demais... Parecia que ele, ao invés de dormir, tinha... Sei lá... Passado a noite enfrentan-do as forças do mal! – é, eu tenho visto muito desse tipo de séries, gibis e etc.

Independente disso, se me falarem que ele não é um Elfo, eu vou dizer que ele É UM ELFO!

E se perguntarem por que acho isso, vou falar:

Ele beija bem – como todo Elfo deve beijar –, é um mau caminho inteiro – como todo Elfo – e é misterioso – como todo Elfo. Ou seja: Sammuel é um Elfo! E ainda vou dizer que uma hora vou convencê-lo a me mostrar as provas irrefutáveis de sua elfice: as orelhas pontudas! Quer dizer, se como retaliação não houver outro beijo daqueles... Ou eu provavelmente, ou perco o rumo de casa, ou vou ter amnésia crônica...

Ou... Dane-se. Vou querer ver as orelhas pontudas sim. Afinal, ele beija bem.

Mas... Aquele sonho que eu tive me martelou um pouco durante o dia. Será que a menina é minha filha, no sonho? Bem capaz, considerando as simi-laridades...

Ainda assim... Caramba, quem seria o pai? Eu não conhecia caras com olhos azuis de céu de verão – aliás, eu não gostava muito de caras de olhos azuis... E que histórias é essa de eu ter asas?

Ok, talvez eu esteja dando muita importância a um sonho...

A quem quero enganar? O fato é que pirei de vez... Só pode.


Ouvi um barulho de vidro quebrando vindo da cozinha. Deixei Teorias de Conspiração em cima da cama e desci correndo. Tia Verônica NUNCA quebra as coisas. Tem uma das mãos mais firmes que conheço!

Entrei na cozinha, e juro que fiquei desesperada. Tia Verônica estava caída no chão, em meio a cacos de vidro coloridos, que eu reconheci como sendo do conjunto de jantar que minha mãe ganhara no Chá de Cozinha não-sei-quantos anos atrás.

Ela estava desacordada em meio ao mosaico colorido. E, aquilo na pon-ta dos dedos dela, em alguns cacos, e na cabeça dela, em meio aos fios loiros, era sangue mesmo?

Senti minha cabeça rodar com o quadro de horror, sentindo-me enjoada, enquanto procurava cegamente com as mãos o telefone sem fio de parede para ligar para a emergência.

E para a Polícia, quando vi a porta de vidro que dava da cozinha para a área de serviço, fundos e jardim, quebrada, com os cacos espalhados pelo lado de dentro.


A ambulância e a polícia chegaram ao mesmo tempo que meus pais. E-les entraram correndo. Minha mãe passou direto, indo ver o que tinha aconte-cido, mas meu pai parou em mim, segurou meu rosto e verificou se estava tudo bem comigo. Acho que o olhei de modo meio perdido, ainda tentando acreditar no que eu vira. Cara, era impossível acreditar que Tia Verônica tinha sido atacada. É uma das mulheres mais carinhosas e todo o mais que conheço. Era inconcebível pra mim saber que alguém a atacara.

Despertador estava deitado aos meus pés no sofá. Fiquei com medo de esperar sozinha na sala. Minha mãe não falou nada, acho que ela entendeu.

Eu não mexera em Tia Verônica, com medo de piorar a situação. Ela foi amarrada à uma maca e levada para a ambulância. Me levantei para ir, mas meu pai me pediu que ficasse com minha mãe que ele iria. Ouvi os paramédi-cos comentando a possibilidade de uma concussão ou até mesmo um trauma craniano. Isso me fez estremecer dos pés a cabeça. Eu pedia aos céus, ao To-do-Poderoso e todo e qualquer Ser Superior que se preocupasse conosco para que a ajudasse a sair daquela bem.

A polícia olhou tudo. Verificou se não havia ninguém suspeito nas re-dondezas, me fez algumas perguntas, tipo, o que eu estava fazendo, se tinha ouvido algo além do vidro quebrando, coisas assim. O mais estranho é que, apesar dessa invasão, não levaram nada. Apenas... Quebraram o vidro, deram uma bela pancada em Tia Verônica e quebraram boa parte da louça da cozi-nha. E isso me parecia tão improvável...

Depois que a polícia saiu e meu pai ligou avisando que Tia Verônica ficaria bem, minha mãe, estranhamente, foi carinhosa comigo, me segurou pelos ombros e me levou até o quarto. Eu, em estado de choque pela preocupação com Tia Verônica, apenas acompanhei minha mãe, Despertador seguindo-nos, quieto.

− Dorme um pouco, filha... – minha mãe me disse, beijando minha testa e fechando a porta do quarto. Ela nunca fizera isso. Sério. Em meus quinze aninhos de vida, só me lembro de papai, Devon e Vovó me colocando pra dormir.

Ainda assim, automaticamente coloquei o Teorias de Conspiração debaixo do meu travesseiro e deitei na cama, arrastando Despertador para deitar ao meu lado.

Definitivamente, esse meu dia foi horrível... Um biscoito da sorte azarento teria sido melhor...

E pra piorar, tive mais um sonho estranho. Mais que o outro, aliás...

Eu tinha uns vinte anos, não mais como no outro sonho, e fazia um parto. Isso mesmo, sendo que Medicina nunca se passou pela minha cabeça – não é o sangue que me assusta, mas a ideia de cortar uma pessoa pra uma cirurgia ou algo assim...

A jovem tinha um olho claro como uma estrela, quase branco MESMO, e o outro era azul-elétrico como o de mamãe. O cabelo era negro, com mechas brancas e alguns fios cinzentos que davam a sensação de grisalho. Um ho-mem que era bem “Ooooh, lá em casa...” a segurava pelas costas, apoiando-a enquanto eu fazia o parto, parecendo preocupado, falando palavras de incentivo e algo como ela deixar a terceira natureza e a majestade dentro dela dominar. Os cabelos dele eram pretos de um tom azulado, os olhos azulados com um halo verde ao redor, a pele quase negra e músculos salientes. Como disse, bem “Ooooh, lá em casa...”.

Notei que havia uma majestosa loba – não sei como era fêmea, e com certeza era maior do que um lobo comum – de pelagem negra rajada de azul e com olhos semelhantes aos do homem, mas com as pupilas em fenda e prateadas – algo BEM surreal – andando ao nosso redor, como que... Como que guardiã da jovem de olhos bicolores.

Sentia uma mão em cada um de meus ombros, e era óbvio que pertenciam a pessoas diferentes.

Uma pertencia à um rapaz de pele morena, olhos de um castanho indefinível e o cabelo espetado e avermelhado, dando a impressão de ele estar com a cabeça em chamas. Sorria de um modo como se quisesse dizer que eu era capaz e que estava ali do meu lado se eu precisasse. Me transmitia calma.

A outra pertencia a uma jovem que não era delicada como o rapaz. Mas por quem a eu do sonho nutria um grande carinho e respeito. O cabelo era ruivo e liso, com reflexos verdes, caindo de forma desordenada e repicada pelo rosto e ombros pálidos e sardentos, os olhos de um tom verde-pântano, as orelhas com uma ponta semelhante a de um Elfo, mas com outra logo em seguida, lembrando uma barbatana. E tive a sensação de que até o globo ocular era esverdeado. Ela me passava força com seu olhar determinado e que dizia, ao mesmo tempo, que se eu não conseguisse fazer aquilo, ela me arrebentaria. Sua posição indicava isso, mas a eu do sonho não tinha medo. Confiava nela.

Virei-me para a jovem de olhos bicolores, notando que, em minha observação daqueles que me rodeavam, o tempo parara, e que agora ele voltava a correr. Por vezes as pupilas dos olhos da garota, em meio aos gritos de dor dela e de incentivo meu e do homem e do suor que escorria dela pela força que fazia para trazer seus filhos ao mundo – como eu sabia que era mais de um? Não tenho ideia – e do suor que escorria de mim pelo nervosismo e pelo medo de falhar, sumiam, as íris assumindo um tom de vermelho-rubi com riscos azul-fogo que pareciam uma chama viva, mas com pintas das cores originais.

Mas acordei sem saber se as crianças tinham nascido ou não.

Provavelmente aquele sonho doido era efeito do nervosismo depois do episódio com Tia Verônica...

Embora não tivesse muito relacionado, a meu ver...


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Syba: Mas não faça piada do meu cabelo... u.ú
Gabi: Tá, tá... ¬¬