10 fevereiro 2013

Arely A Mensageira - Interlúdio: Pacto


Pray to the gods I have sold in this game of live and let die
Pray for my soul in this world to deliver me from my sins
Pray...

Reze aos deuses, eu me vendi neste jogo de viver e deixar morrer
Reze por minha alma neste mundo que entregou-me aos meus pecados
Reze...

(Blood on My Hands, Xandria)

Suspirou de modo quase aliviado ao ver o irmão correr. Acabara de ver o pai morrer pelas mãos – ou dentes – daquelas aberrações, não suportaria ver também o irmão e a mãe destroçados daquele jeito. Podia ter se jogado para a morte, mas levaria muitos daqueles monstros com ele.
Sentiu dentes afiados se encravarem em seu ombro. Uivou de dor, dando uma cotovelada no monstro que se aproximara pela retaguarda. Sentiu um pedaço de carne ir junto quando os dentes o abandonaram. Com um grito de guerra, virou-se, o machado fazendo um corte “limpo” ao arrancar a cabeça do corpo.
Cinzas começaram a acumular-se aos seus pés, mas mais rápido ainda os monstros se acumulavam ao seu redor. Eram muitos. E ele era apenas um rapaz humano.
Praticamente não sentiu quando vários alcançaram seus braços, sugando cada vez mais de si, puxando-o para baixo e o subjugando. Um deles, que parecia ser o mais velho do bando, aproximou-se. Pouco sangue manchava-o, apenas respingos. Havia algo nele que dizia a Adrien que era alguém muito mais velho do que sua mísera aparência de vinte e poucos anos dizia. O cabelo preto estava cuidadosamente arrumado como se ele fosse da realeza. Até suas roupas diziam isso. E Adrien engoliu uma respiração afiada quando os olhos cinzentos tornaram-se vermelhos como vinho-tinto. Sorria de modo satisfeito, caninos pontudos aparecendo.
O rapaz sentiu quando os monstros pararam de sugar seu sangue, à um sinal de mão do homem. O homem acenou a mão de novo, e uma mulher ensanguentada com os olhos vermelhos furiosos aproximou-se, puxando alguém pela gola da blusa. Adrien sentiu pavor ao ver o irmão gêmeo, com o rosto apavorado como se tivesse voltado a ter oito anos de idade e tido um pesadelo. Tentou erguer-se, mas apesar de os monstros não estarem mais alimentando-se de seu sangue, ainda o seguravam e tinham apertos de aço em suas mãos. E estar tão malditamente exausto não ajudava.
O homem olhou para Louis e então para ele, parecendo satisfeito. E então, parou o olhar no rapaz ensanguentado.
– Então, meu rapaz... Você tem futuro... – chutou as cinzas aos pés de Adrien. – Preciso de rapazes fortes como você no meu exército... Estaria disposto a unir-se à mim? – a resposta de Adrien foi cuspir o sangue em sua boca na mão estendida do homem. Ele pareceu não ligar, balançando a mão para a mistura de sangue e saliva sair. Balançou a cabeça de modo desapontado. – Uma pena. – virou-se e começou a andar, a mulher que segurava Louis o seguindo junto com outros monstros. – Acabem com ele! – falou quando estava a certa distância. Adrien pode ouvir a voz do irmão, tão parecida com a dele, gritando.
– NÃO! VOCÊ PROMETEU POUPÁ-LO SE EU FOSSE COM VOCÊ! ADRIEEEEEN!!!! – a forma abrupta como a voz de Louis parou indicou ao gêmeo que provavelmente tinham batido em sua cabeça para ficar quieto e agora o rapaz estava desmaiado.
Adrien riu.
Riu de um modo como apenas alguém que sabe que está diante da morte pode rir.
E antes de desmaiar pela falta de sangue e por causa da dor, achou ter ouvido um coro de uivos e visto a lua brilhar vermelha.

Abriu os olhos devagar. Um rapaz o olhava relativamente de perto, um sorriso alegre nos lábios. Suas feições eram... Estranhas. Magras e esticadas, como se o rapaz tivesse crescido rápido demais e ainda não recolocara a carne embaixo da pele morena. Mas, apesar disso, o cabelo ruivo e encaracolado parecia em bom estado, caindo em gavinhas por seu rosto e ombros, e os olhos verdes eram brilhantes e intensos, revelando a Adrien que pertenciam à alguém cheio de vida.
– Quem... É você? – tossiu no meio da frase, sentindo a garganta ressecada. Sentiu o rapaz encostar um cantil de couro em sua boca, e bebeu vigorosamente a água que escorria.
– Meu nome é Tomás. Eu e você somos sortudos pelo Senhor Joseph e sua alcateia estarem caçando Vampiros anteontem, ou não estaríamos aqui. E você, quem é? – o sorriso abalou-se apenas por um instante, mas não desapareceu.
– Meu nome é Adrien. Onde você foi encontrado? – Tomás o ajudou a erguer-se, e só então Adrien percebeu estar numa casa da nobreza. Não havia como um quarto daqueles não pertencer à nobreza.
– Numa vila que foi atacada não muito longe da sua. Savino tinha deixado muitos Vampiros ali, por isso o Senhor Joseph demorou pra chegar à sua vila... – o sorriso morreu, e Adrien viu os olhos do rapaz se preencherem com dor. – Na minha ainda conseguiram salvar algumas crianças, mas na sua... Sinto muito. Só você ainda estava vivo quando os Lycans chegaram. – Adrien abaixou a cabeça com a notícia, as costas apoiadas no batente da cama de forma pesada. Isso queria dizer que sua mãe não estava mais viva. Mas então, lembrou-se de seu irmão, e isso deu-lhe novo ânimo. Se Louis ainda estava vivo...
– E o meu irmão?! Não tinha como saber que não era meu irmão, somos gêmeos! – segurou os ombros de Tomás, praticamente exigindo uma resposta.
Nesse instante a porta do quarto abriu-se, e um homem entrou. O seu porte era o de alguém da realeza, apesar das roupas simples, com cabelos castanhos e cheios indo até os ombros, alguns poucos fios brancos em meio ao marrom. Os olhos eram cor de mel, com um halo mais escuro ao redor da íris. No globo ocular direito, quando ele mexia os olhos, Adrien viu uma pinta mais escura. A pele era mais escura que a de Tomás. Podia andar apoiando-se numa bengala de carvalho finamente entalhada para ter um lobo no alto, mancando de vez em quando, mas Adrien via que isso não o impedia de ter o corpo avantajado de um soldado.
– Boa tarde, Senhor Joseph. – Tomás exclamou com a alegria de uma criança que vê o pai chegar de um dia de serviço no campo.
– Vimos seu irmão ser levado desacordado por Savino, o Vampiro em quem você cuspiu e que é o mais antigo de que temos notícia. – sorria levemente, como se aprovasse o que o rapaz fizera. Mas então suspirou, o sorriso sumindo. – Mas se Savino o levou, isso quer dizer que vai transformá-lo. – havia tristeza em sua voz. Continuou andando pelo quarto, e a próxima notícia parecia tão difícil de ser dada como a anterior. – Tanto você como Tomás estavam quase mortos quando os encontramos. – o homem pareceu morder a bochecha por dentro. – Tivemos de tomar medidas drásticas para que sobrevivessem. Por um instante, achei que você não tinha o que era necessário para se transformar... – Joseph sentou na beirada da cama, olhando para os dois rapazes.
– Transformar...? O que o senhor quer dizer? – Adrien perguntou, sentindo a garganta seca por um instante. Mas foi Tomás quem respondeu.
– Ele nos transformou em Lycans. Somos os mais novos membros da Alcateia do Senhor Joseph. Junto com ele, vamos continuar caçando Vampiros e impedi-los de continuar fazendo o que fizeram com nossas vilas. – Tomás agora parecia uma criança que ganhara um presente. Adrien viu Joseph sorrir com a animação do rapaz.
– Não os caçamos apenas por isso, mas... – Joseph pareceu pensar por um instante. – Teremos tempo para isso conforme ensinamos vocês a controlarem seus novos dons. – sorriu e estendeu a mão para os dois rapazes. Adrien apertou a mão oferecida com um sorriso no rosto. Ainda tinha esperanças de encontrar seu irmão.

– Muito bem, Adrien! – o rapaz ouviu o Mestre gritar em sua direção e de Tomás, enquanto praticavam com as espadas finas de esgrima. Os dois já viviam com o Lycan Alfa da Alcateia há um ano e meio. Naquele período, Adrien aprendera a considerar Tomás um irmão e Joseph uma espécie de pai. Ele e outros da Alcateia, que com raras exceções eram todos parentes de sangue de Joseph – inclusive as mulheres, que quando não estavam diante de nobres humanos eram tão inteligentes e fortes quanto qualquer homem – , a família Lafayette, vinda da França, sempre estiveram por perto, ajudando-os a dominar seus novos dons, mas além disso, ele investira para que os rapazes aprendessem a ler e a escrever e a pensar como se tivessem nascido num lar nobre.
Para qualquer um que não soubesse de fato a ligação que compartilhavam, Joseph apenas adotara sobreviventes das tragédias de suas vilas.
Adrien viu de relance um dos empregados humanos aproximar-se de Joseph e falar algo em tom baixo. Depois que afastou-se, o Alfa olhou para os dois adolescentes.
– Está bom por hoje! Temos visita, vão se trocar! – imediatamente, Joseph saiu do jardim interno da mansão.

Adrien e Tomás entraram de forma quase afobada na sala de estar, ainda terminando de arrumar os cabelos. Encontraram Joseph a conversar com um homem semelhante a ele, com os cabelos cortados próximos ao couro cabeludo, com um brilho vermelho, e os olhos com um tom dourado que lembrava bronze. O homem, que o cheiro denunciou para os rapazes ser um Lycan, levantou-se quando os dois entraram. Sorriu de um modo mais lupino do que qualquer Lycan que eles tinham visto.
– Rapazes, esse é meu irmão, Leonardo. Lembram do que contei-lhes sobre os Observadores? – Joseph não ergueu-se de seu lugar, mas olhou para os dois jovens Lycans com uma expressão divertida no olhar.
– Qual deles tem mais esperança, Joseph? – Leonardo perguntou, os olhos dourados faiscando entre os dois Lycans, com algo que Adrien julgou ser expectativa
– Acho que Adrien... – Joseph respondeu, acenando para Adrien e Tomás se aproximarem.

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