15 dezembro 2011

Teorias de Conspiração - Capítulo 21: "Te Vejo no Inferno"

Com um sinal da Gnoma, o Djin enrolou meu pescoço numa chave de braço muito forte, pressionando minhas asas – doeu pra burro! Você me paga por machucar as minhas asas, Djin filho duma égua!

Eu não resisti, porque sabia que não adiantaria nada.

Ela segurou meu queixo, apertando minhas bochechas e me fazendo olhar para ela.

− Você não pode escapar, Fadinha. Você vai morrer hoje. Diga adeus à todos que conhece. – ela sussurrou, de um jeito que me deu arrepios e uma vontade louca de sair correndo – embora eu não pudesse por causa do Djin.

E como Despertador pressente à quilômetros meu estado de espírito, ele logo apareceu. Rosnava para a Gnoma, que o olhou como se olhasse para uma barata que ela ia esmagar. Hei! Mais respeito com a minha Mantícora!

− Mantícora. Se você se aproximar mais ou tentar me atacar, sequer deixo ela mandar um beijo de despedida. – seu tom de voz conseguia ser mais frio que o pólo norte – tipo como se estivesse a 0 kelvin. Só sei que Despertador recuou lentamente, mas continuou rosnando. Ele até ameaçou não obedecê-la, mas o olhar que lhe joguei o fez ficar quieto.

A Gnoma começou a andar pra lá e pra cá na sala, pensativa. Ao menos era o que parecia.

− Vejamos... Qual será a melhor forma de te matar? – ela me olhou por um segundo, e vi seu olhar, mais sangrento que o do RedEyes que eu enfren-tara. – O que sugere, Kai? – ela andou até o Djin, colocando a mão no braço dele de um jeito quase carinhoso.

Ele a olhou, e eu, pelo canto do olho, percebi que seus olhos sorriam. Coisa estranha...

E então, ele falou. Eu não tinha ouvido a voz de um Djin, mas vou te contar... Até um violino desafinado seria mais agradável... Era uma mistura de grasnado de abutre com uma voz arranhada, um tanto retumbante como um trovão, e ainda assim, eu detectei doçura na voz dele. Ele tinha carinho por ela? Que relação mais estranha...

− Talvez cortes “rasos” em pontos vitais... Assim ela sangraria até mor-rer. – brrrr! Eu PERCEBI o prazer sádico que ele sentiria se realmente fizesse isso comigo. Argh! Nunca mais ando dentro de casa sem meu pingente pendurado no pescoço!

Bem, se eu escapar dessa, claro... Começo a duvidar que eu vá ver os lindos olhos de céu de verão de Rashne de novo...

− Muito demorado... – a Gnomo murmurou, e então entrou na cozinha. O Djin me arrastou com ele para acompanhá-la.

Ela sentara em cima da mesa.

Caramba! A gente COME em cima dessa mesa todo santo dia, tenha educação! Pra que existe cadeira, hein?

Eu me controlei ao máximo para não gritar para ela descer da mesa. Sé-rio. Todo mundo que participou da minha criação me ensinou que é falta de educação sentar na mesa onde a gente come. Além de anti-higiênico.

Ela me olhava fixamente, e eu, com coragem saída sabe-se lá da onde, devolvia o olhar com igual intensidade. Não desviei em momento algum.

− Você tem brincos encantados feitos pelos Elfos Das Montanhas, e Malë, forjado por Anastásia, não tem? – ela perguntou depois de ficar em silêncio por um tempo. E então, me lembrei de quando eu enfrentara o Djin. Não adiantaria negar. Ela tinha visto as adagas e os brincos.

− Tenho. – me limitei a dizer, esticando o pescoço um tantinho pra facili-tar a passagem de ar. Parecia que o Djin apertava meu pescoço cada vez mais!

Ela desceu da mesa e olhou-me fixamente.

− Quem os deu à você? – aquilo não era um pedido. Era uma ordem.

Mas eu nunca fui de obedecer ordens de quem não gosto.

− Pra que quer saber?

Ela riu de um jeito macabro.

− Ora! Se o ser possuía esses artefatos, quais outros ele não tem? Vou precisar de todo o poder possível para conseguir acabar com as raízes das Fadas, assim, vocês nunca mais irão voltar: Aine. – ela praticamente cuspiu o nome da Grande Aine. Mais respeito com ela, Gnoma! Ela vive desde a aurora do mundo!

Mas, peraí! Ela pretende matar Aine de Knockaine? Não enquanto eu existir!

Eu comecei a rir histericamente, ocultando meu pequeno desespero por saber os planos dela.

− Matar Aine? Você não vai conseguir! – eu gritei, de certa forma, em meio ao riso histérico.

Ai, meu estômago! Você me paga por esse soco, Gnoma!

Ela segurou meu queixo de novo, e eu percebi uma raiva profunda em seu olhar.

− Você vai me falar quem te deu esses artefatos sim, Fadinha. E pra cada mentira, piadinha ou qualquer coisa assim, você vai ficar um passo mais perto da Dimensão dos Mortos. Agora, diga: quem foi? – ela soltou meu queixo e sacou uma pequena faca de atirar do cinto na parte de trás.

Eu sorri do jeito que alguém sorri quando sabe que acabou pra ele. O típico sorriso dos desesperançados. Despertador ainda ameaçou avançar na Gnoma, mas eu o olhei de um jeito calmo que o fez sentar, apenas olhando para a Gnoma de forma assassina.

− Vá em frente. Pode me matar. Não vou falar quem me deu esses artefatos.

Os olhos dela sorriram sadicamente.

Não gostei.

− AAAAAH! – berrei de dor quando ela fincou a faca na minha barriga. Não sei se atingiu algum órgão além do intestino – desconfio que tenha atingido sim – mas doía muito. É impossível descrever o tipo de dor que me rasgava. Era simplesmente muita dor. E então, ela tirou a faca, e isso me fez gemer. Foi ainda pior, porque senti o sangue começar a escorrer com mais rapidez, sem nada que parasse o fluxo.

Percebi vagamente ela falar para Kai me soltar. Quando o braço dele não envolvia mais meu pescoço, despenquei de joelhos, apertando o ferimento com a mão, tentando ao menos diminuir o sangramento. Mas isso parecia impossível.

A Gnoma se abaixou, ficando na minha altura. Me fitou novamente com seus olhos dourados. Eu percebia pelo brilho de seus olhos que ela gostava de me ver naquela situação: indefesa.

− Vai falar? – ela perguntou. Eu sorri de um jeito insubordinado antes de falar.

− Vai sonhando. – os olhos dela brilharam de irritação.

E então, de novo, eu berrei quando ela voltou a fincar a adaga na minha barriga, mais acima do outro ferimento. Dessa vez, tenho certeza, ela acertou algum órgão mais importante que o intestino. E eu não conseguia parar de fazer o sangue verter.

− Na próxima, atinjo seu coração. Pense bem em qual vai ser a sua res-posta. – eu percebia pela voz dela que não esperava aquilo. Ela esperava que eu fosse fraca e que iria respondê-la. Não esperava alguém sem medo de morrer.

Ao menos naquele momento...

Eu sorri, e já ia falar para ela ir em frente, quando eu ouvi alguém gritar um feitiço – que eu reconheci como sendo um Feitiço de Expulsão, na mesma categoria dos de Teleporte, a diferença é que eles forçam algo ou alguém a ir parar em outro lugar e não precisam de símbolos – e então, a Gnoma e o Djin se desfizeram numa tênue fumaça, enquanto eu ouvia a voz dela que ficara: raiva extrema enquanto gritava uma maldição qualquer.

Cambaleei no lugar onde estava, e percebi Despertador e mais alguém – acho que um homem – correrem em minha direção.

O sangue empapava minha camiseta e já cobrira minhas mãos quase completamente, fora o que escorria para a calça e então para o chão. Eu não entendi o que o homem disse, embora sua voz fosse familiar. Minha vista estava embaçada e meus ouvidos não funcionavam mais com perfeição.

A única coisa que vi vagamente antes de apagar foram dois olhos azuis de céu de verão.


Eu morri?

Com certeza isso não é um sonho. Talvez eu esteja perdida na Dimen-são dos Mortos, ainda sem saber se o caminho que devo seguir é o do Inferno ou o do Paraíso.

Eu nem sei como achar os caminhos.

Esse ar pesado e essa sensação de caminhar sobre ovos... Isso me ma-ta – isso é um paradoxo, mas quem liga? E esses Espectros de Almas daque-les que morreram e se perderam no caminho me assustam.

E se eu ficar igual a eles?

A névoa obscurecia minha pouca visão, mas ainda assim, pude captar algo que definitivamente não se tratava de Espectros. Talvez uma visão resul-tante de todas as memórias e energias espalhadas?

Caminhei naquela direção, e fiquei surpresa e ao mesmo tempo com medo ao perceber o corpo de uma Fada caído no chão. Não podia ver seu ros-to, coberto pelos cabelos cacheados, mas olhar mais ao redor fez eu ver a mim mesma, olhando para o nada, chorando, com aquele olhar de ódio e raiva de mim mesma. Era eu naquela visão em que me olhava e falava “Tudo culpa sua”.

E então, percebi a Gnoma, com a máscara trincada e um olhar de puro ódio.

Me vi olhar para a Gnoma e sorrir sadicamente antes de falar num tom raivoso e sarcástico.

− Te vejo no Inferno.

Avancei para cima da Gnoma, e quando começamos a lutar, ouvi al-guém chamar meu nome e desfiz-me em névoa.


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